Animais Fantásticos - Os Crimes de Grindelwald (2018): O feitiço se volta contra o feiticeiro

Ao longo dos sete livros da saga Harry Potter, sua autora J. K. Rowling se provou uma talentosa contadora de histórias e uma exímia gestora de uma franquia que se manteve em constante expansão com uma série cinematográfica de oito filmes, três livros derivados, dezenas de jogos eletrônicos, uma peça teatral, um parque temático e uma enciclopédia virtual interativa, entre tantos outros exemplos de desdobramentos da marca que a transformou na primeira escritora bilionária.

Após a conclusão da série de filmes de Harry Potter em 2011, Rowling anunciou uma nova franquia cinematográfica, na qual ela seria a roteirista e David Yates, que comandou quatro dos oito filmes de Harry Potter, retornaria como diretor. Nascia Animais Fantásticos e Onde Habitam (2016), que propunha retornar ao passado para aprofundar elementos importantes do universo bruxo, alçando personagens terciários à protagonistas e explorando novas ambientações.

O filme, protagonizado por Newt Scamander (Eddie Redmayne) foi bem recebido pela crítica e pelos fãs saudosos, e não demorou para que Rowling anunciasse que viriam mais quatro sequências. O segundo filme da saga, Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald (2018) retoma a trama poucos meses após os acontecimentos do primeiro longa e segue expandindo o escopo da saga, trazendo de volta o vilão Gerardo Grindelwald (Johnny Depp) e os coadjuvantes Jacob (Dan Fogler), Queenie (Alison Sudol), Tina (Katherine Waterson) e Credence (Ezra Miller). 

Os problemas do filme, contudo, começam na apresentação das novidades: apesar de promissora, a ambientação parisiense e os novos personagens, como Teseu (Callum Turner), o irmão de Newt, Leta Lestrange (Zöe Kravitz), sua antiga paixão, e Nagini (Claudia Kim), se perdem em meio à uma sequência de acontecimentos desnecessariamente complicada que expõem novamente e com ainda mais clareza um dos problemas da nova franquia: a dificuldade de confluir as múltiplas tramas e equilibrar o desenvolvimento de novas ideias com as referências e explicações de elementos já conhecidos da saga.

Como roteirista, Rowling fica devendo ao seu próprio material, que não conta com o filtro da adaptação eficiente de Steve Kloves, que condensou de maneira bastante eficiente as longas histórias dos livros da autora. O resultado é uma narrativa que desperdiça seu competente, porém superlotado elenco em cenas que parecem criadas exclusivamente para justificar fragilmente a função e motivação dos personagens na história, parecendo ter em mente sempre uma gratificação ou resolução nas sequências vindouras.

Sem o apoio do roteiro, é ingrata a tarefa do montador Mark Day, que tem dificuldade em ordenar e alternar os múltiplos focos do filme, o que obriga a trama a avançar lentamente, abordando seus temas de maneira superficial e diluindo o protagonismo entre os personagens de maneira pouco eficiente, tornando seu personagem principal de fato, Newt Scamander, em um mero recurso para costurar a confusa narrativa.

A direção insossa de David Yates continua sendo elevada pelo impecável e consistente trabalho de outros departamentos da produção, chefiados por veteranos da franquia como o designer de produção Stuart Craig, os diretores de arte Martin Foley e Lydia Fry, a figurinista Colleen Atwood e o compositor James Newton Howard. Infelizmente, com esta mal enjambrada sequência, a franquia mostra que continua enchendo os olhos com criaturas fantásticas e feitiços, mas perdeu sua magia.

365 Filmes +Conteúdo +Notícias +Produtos +Cinema

A 365 Filmes é um conjunto de ferramentas que juntas formam um espaço totalmente voltado para o cinema. Seja através do conteúdo do blog, das notícias nas redes sociais ou dos produtos de nossa loja exclusivamente criados para os amantes da sétima arte, nossa motivação é divulgar, incentivar e inspirar cada vez mais cinema.