Como pode ser observado pelo
espectador ao longo da trajetória do próprio Bergman como cineasta, estes
filmes trazem diversos elementos de sua carreira como dramaturgo e diretor de
teatro. Há também a forte presença de outro dramaturgo sueco em notável
influência, August Strindberg. São títulos pautados na simplicidade, Bergman está mais uma vez preocupado em
extrair o máximo de seus atores por suas feições e diálogos, para que possam
assim exprimir toda a crise de sua existência. Sven Nykvist também foi fundamental na idealização dos filmes,
tendo sido o responsável pela fotografia dos três. Os contrastes de luz e
sombra projetados por Nykvist dão aos personagens a densidade dramática tão
característica de seu trabalho em parceria com o diretor em seu momento mais
intenso.
Em Através de um Espelho, uma família composta por um pai, David (Gunnar Björnstrand), o filho Minus (Lars Passgard), a filha Karin (Harriet Andersson) e seu marido, o médico Martin (Max Von Sydow), passa suas férias numa ilha onde eles têm uma casa de repouso (este cenário das Ilhas Faro seria recorrente na obra de Bergman a partir de então, e ele até viria a morar ali). David é um escritor que passa por um momento de bloqueio, enquanto Karin é recém diagnosticada esquizofrênica e, a partir dessa notícia, cada indivíduo naquele espaço passa a lidar de um jeito com a situação. Por mais de uma vez, Karin entra em colapso, o amor que David e Martin sentem por ela são colocados à prova em cenas aterradoras onde Harriet Andersson brilha enquanto conduz sua personagem ao fundo do poço. Desesperada, Karin se vê completamente desamparada quando em um de seus vislumbres, Deus se revela como uma figura monstruosa para ela, que então passa a ter outra percepção da vida.
1. Através de um Espelho (1961)
Em Através de um Espelho, uma família composta por um pai, David (Gunnar Björnstrand), o filho Minus (Lars Passgard), a filha Karin (Harriet Andersson) e seu marido, o médico Martin (Max Von Sydow), passa suas férias numa ilha onde eles têm uma casa de repouso (este cenário das Ilhas Faro seria recorrente na obra de Bergman a partir de então, e ele até viria a morar ali). David é um escritor que passa por um momento de bloqueio, enquanto Karin é recém diagnosticada esquizofrênica e, a partir dessa notícia, cada indivíduo naquele espaço passa a lidar de um jeito com a situação. Por mais de uma vez, Karin entra em colapso, o amor que David e Martin sentem por ela são colocados à prova em cenas aterradoras onde Harriet Andersson brilha enquanto conduz sua personagem ao fundo do poço. Desesperada, Karin se vê completamente desamparada quando em um de seus vislumbres, Deus se revela como uma figura monstruosa para ela, que então passa a ter outra percepção da vida.
2. Luz de Inverno (1963)
Luz de Inverno, no entanto, é uma obra diferente - centrada no
pastor Tomas, novamente encarnado por
Gunnar Björnstrand, que enfrenta dificuldades para confortar a si próprio e os
membros de sua comunidade. Enquanto sua fé é testada por constantes visitas da
paróquia, ainda lida com o sentimento da perda de sua esposa, que o torna
angustiado e descrente. É incrível como Gunnar, quando fala em tom de desgosto a
respeito de sua experiência como sacerdote, está tomado pelas sombras de cada
cenário – falando como a consciência teimosa e pessimista de cada personagem, sempre
em tons imperativos. Tomas se depara com um conflito ainda maior ao encarar um
Max Von Sydow deprimido em vias de suicídio, possuído pelo medo da ameaça
nuclear da época. Nesta obra, Bergman é ao mesmo tempo sutil e visceral, indo
direto ao cerne da questão quando explana a solidão humana nos momentos de
maior dificuldade da vida. As perdas e dúvidas que assombram a racionalidade.
3. O Silêncio (1963)
Já O Silêncio parece o mais cru dos três. A incomunicabilidade entre o
trio de personagens é devastadora. Duas irmãs, Esther e Anna (Ingrid
Thulin e Gunnel Lindblum respectivamente), e o pequeno Johan (Jörgen Lindström), filho de Anna, voltam de uma viagem de
férias quando são obrigados a fazer uma parada devido a saúde de Esther. As
duas irmãs são claramente distintas. Enquanto Esther é uma tradutora e notável
intelectual, Anna é mais ligada aos prazeres terrenos – o conflito entre as
duas se dá por muitas maneiras em mais que um plano. São perceptíveis várias
camadas de texto que podem ser interpretadas à bel prazer do espectador. Todas
sobre a lente de Sven Nykvist, que neste título capta alguns dos planos de alta
profundidade de campo mais belos da história do cinema.
Personagens dos três filmes
esperam respostas, revelações que os ajudem em seus momentos de aflição. As
ideias sobre Deus e a necessidade de sentir a sua presença já haviam sido
abordadas brilhantemente no que talvez seja o maior clássico de Bergman: O
Sétimo Selo. Nestes três filmes, há maior dedicação a esse debate (visto que o
próprio autor nega que eles formem uma trilogia),). Bergman é mais direto e não
esconde a vontade de abrir o jogo sobre o que pensa a respeito do assunto,
desaguando no seu tema que é sua assinatura dramatúrgica: a solidão e como o
homem lida com ela. Atestando isso, está a questão familiar presente em Através
de um Espelho e O Silêncio. Não atoa, a frase “papai falou comigo”, enunciada por Lars Passgard no findar da
película, marcaria para o sempre o filme, pessoas que vivem juntas, porém
desconexas e que aparentemente vivem bem, estão na verdade, desmoronando por
dentro. A recorrência entre os temas de Bach é um vínculo interessante entre
filmes. Ainda com Através de um Espelho, Bergman estabeleceria seu nome no
cinema mundial ao vencer o Oscar de
Melhor Filme Estrangeiro pelo segundo ano consecutivo, já que A Fonte da Donzela havia conquistado a
honraria no ano anterior.
A experiência com os filmes de
Ingmar Bergman pode não ser a mais otimista se tratando de cinema, em alguns momentos,
inclusive, é muito perceptível a ausência da esperança, a ponto de gerar um
terrível incômodo ambiente. Então, espectadores acostumados a buscar sempre o
bom, belo e moral na arte podem dar de cara com um cinema aparentemente
monótono, mas repleto de emoção e questionamentos sobre tudo o que a vida é e
pode vir a ser. Como autor, Bergman instiga seu espectador a confrontar a sua
existência, questionar de onde ele tira a sua fé e de onde espera salvação.