Me desculpe, Claire Denis

Finalmente fui conferir o novo filme de Claire Denis, e quero dividir reflexões importantes durante o elogiado ‘Deixe a Luz do Sol Entrar’:

Bala 7 belo é a melhor bala do mundo, poucas conseguem atingir esse aroma de remédio que criança topa tomar. Mas tem aquela bala 'Tri', que se parece com um falso chiclete, a de maçã verde é a melhor de todas, vou deixar essa por último, eu sempre deixo a melhor parte por último - mas lembrar sempre que a morte não concorda com essa ordem. 

Será que vai chover depois do filme? Poxa, não trouxe guarda-chuva e eu odeio voltar pra casa com pé ensopado e a meia clamando por fungos. 

Não aguento mais as postagens daquele tipo de pessoa: arrogantes, tentam constranger o interlocutor, arrotam suas críticas sociais foda debochando de críticas sociais foda, lacram em cima da anti-lacração e, no fim, ostentam troféuzinhos de artilheiro retórico. Não ganham mais biscoito meu, greve de likes. 

Preciso mandar aquele email avisando o ator para não tirar a barba e lembrar que não será necessário fazer prova de maquiagem. 

Será que tá muito em cima para criar o meu evento de aniversário no Facebook? E aquele medo de apenas meia dúzia confirmar? Acho de bom tom os amigos que dão um ‘talvez’. Dar ‘talvez’ no evento é um sinal de interesse sem comprometimento, quase a mesma coisa que nada, mas muito melhor do que nada.

Amanhã é dia de receber da firma, mas agora estou na dúvida se emiti uma nota de MEI com dados faltando. To-do list de amanhã: academia, trabalho, almoço, checar a conta no banco, trabalho, banho, janta, Netflix - começar uma série nova ou continuar naquela que já está no episódio 6 e não melhora?

Eita, não to conseguindo me concentrar, e eu queria tanto fazer um texto poético [do filme] sobre o quanto a Juliette Binoche abraça os fragmentos do vazio e representa Barthes com muita dignidade e entrega. Aquela cena de sexo tão inteira, com respirações que quase embaçam a câmera. Olho para Binoche e penso nessa diva intocável de quase todos os cinéfilos que conheço, menos eu. Aguardo alguma flecha tardia.

Não sei o que está comprometendo minha atenção. Primeiro pesquei em ‘Amante Por um Dia’ e agora neste daqui. Será que eu não gosto mais de cinema? Sempre me pergunto isso quando não embarco num filme garantidão. Me sinto desrespeitoso com a obra ou com o meu ócio, mas talvez seja isso: não existe filme garantidão, há um corpo presente diante de uma tela ou apenas um corpo e uma tela. Quanto ao ócio, não é um prêmio do capital ao trabalhador obediente. O ócio é apenas o ócio. É isso, não se trata de broxar para um filme, mas entender quem veio antes, o ovo ou galinha? Se boiei porque o filme era ruim, ou se o filme era ruim porque boiei. 

Vou escrever um texto mesmo assim, um esboço da experiência inconclusa diante de um filme, sobre a ação de ir ao cinema para vivenciar algum ato que poderia acontecer em qualquer lugar. Isso me lembra a personagem Susan de Juliane Moore em ‘As Horas’. Uma mulher enfastiada da vida burocrática cotidiana passa a frequentar um quarto de hotel a fim de se isolar dessa repetição pacata, vive uma espécie de auto-anonimato ou anti-cativeiro, lugar donde seu pensamento consegue ser hipermetrope em relação aos conflitos existenciais. O cinema ou o quarto pairam refúgios de algum resgate ou de uma irresponsabilidade calculada. 

Então eu vou escrever um texto em que eu sacrifico um filme apenas para colorir uma tese, um filme que poderia ser qualquer outro já que esse texto é pura vaguidão específica. Um filme que não é o destino, é carona. Um filme que pouco existiu diante de mim, um filme que eu já menti que vi, mesmo tendo visto de fato. 

No final, vou concluir dizendo que existem os bons filmes, os filmes ruins e os filmes que NÃO PRESTAMOS ATENÇÃO.

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