Human Flow - Cinema Além de Fronteiras

Human Flow - Não existe lar se não há para onde ir (2017) é o maior e mais recente projeto do artista visual chinês Ai Weiwei, que ao longo de um ano, acompanhou a crise de refugiados em 23 países, incluindo França, Grécia, Alemanha, Iraque, Afeganistão, México, Turquia, Bangladesh e Quênia, registrando as dificuldades e os depoimentos de milhares de pessoas que abandonaram seus países de origem por conta de guerra, miséria e perseguição política.

Para registrar essas situações extremas, Weiwei opta por uma abordagem de aproximação, colocando-se em frente às câmeras e dialogando frequentemente com os entrevistados, o que lhe rendeu críticas por sua suposta “vaidade” enquanto figura pública. Sendo verdade ou não, a decisão acrescenta uma camada extra ao filme, já que o próprio Weiwei foi preso pelo governo chinês, mas hoje em liberdade, foi capaz de transitar livremente por todos esses locais sem sofrer represálias, por conta do seu status de artista.

Questões éticas à parte, é inegável a sensibilidade estética do filme, que consegue produzir imagens belíssimas, mesmo em contextos de sofrimento humano, criando um interessante jogo estético ao utilizar uma variedade de dispositivos para capturar essas imagens, de câmeras de celular a drones, em um frequente jogo de alternância entre proximidade e distanciamento. O apuro visual do filme enquanto documentário, gênero geralmente relegado a estéticas mais funcionais, lembra a abordagem de Alain Resnais no antológico Noite e Neblina (1955).


O filme chama atenção por evitar uma dramatização artificial das vivências dos entrevistados, sem eleger “personagens” específicos para conduzir a narrativa. Ao invés disso, opta por construir uma unidade de discursos a partir da multiculturalidade dos entrevistados, espalhados pelo globo e separados por fronteiras, mas de alguma forma aproximados por seus relatos, reunidos no filme como um poderoso coro humano.

O filme é longo, e tem uma preocupação visível com uma certa “limpeza do paladar” do espectador, alternando cenas de conteúdo mais perturbador com registros de paisagens, citações filosóficas e poéticas e entrevistas de autoridades políticas. O aspecto político, aliás, é o ponto frágil do filme, pois o foco no aspecto humano não necessitaria se estabelecer em detrimento de um posicionamento discursivo mais aprofundado e incisivo, disposto a ir além do mero registro documental, por melhor que seja.


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