Introspectivo e divertido, A Ghost Story é o cinema resgatando sua plenitude

Destaque do Festival de Sundance em janeiro, A Ghost Story, romance fantasmagórico estrelado por Rooney Mara e Casey Affleck tem chamado a atenção de público e crítica por diversas razões: traz em seu cartaz o último vencedor do Oscar de melhor ator, o controverso Casey Affleck coberto por um lençol de fantasma em raro tom de melancolia combinada com humor negro; Todavia, o que mais interessa neste filme é o teor poético-filosófico, bem dosado pela mão do competente diretor britânico David Lowery. Mesmo que o espectadore não seja apreciador do que costumamos chamar de cinema contemplativo, ele pode refletir e ainda se divertir assistindo a obra.

Terno e singelo, A Ghost Story também é denso e de forte caráter ensaístico. Para contar a história de um casal que tem seu amor interrompido por um acidente que tira a vida do marido, o diretor também explana sobre nossa percepção de tempo, vida, morte e entropia. Do mesmo modo que pessoas e coisas se perdem no decorrer da história, também é possível encarar todos estes fatos como uma construção.

Explorando o luto da viúva encarnada por Rooney Mara, Lowery se vale de uma narrativa lenta e planos longos que sublinham o ímpeto melancólico de sua obra. Uma cena em especial é bastante crua, a que a viúva vivida por Rooney Mara no auge de seu tormento é mostrada devorando uma torta inteira em cena. Tudo registrado por uma câmera estática enquanto seu ex-marido, como fantasma vouyer a observa ali, imóvel. Tenso, triste e ainda assim fascinante. Mara contou que enfrentou grande estresse para rodar a cena, uma das mais simbólicas de sua curta, porém prolífica carreira como atriz.

Inspirado em A Casa Assombrada, um conto de Virginia Woolf, A Ghost Story também faz citações a outras obras: Amor Nos Tempos do Cólera, livro de Gabriel García Márquez e a Nona Sinfonia de Beethoven (mais propriamente, o quarto movimento que é executado com o Hino à Alegria – poema de Schiller). Há belas rimas com o existencialismo da literatura clássica russa apresentado por Woody Allen em A Última Noite de Boris Grushenko (Love and Death, 1976) que deixa evidências além da apresentação do fantasma. Ghost – Do Outro Lado da Vida (Ghost, 1990) e Um Romance de Outro Mundo (Truly, Madly, Deeply, de 1991) são outros filmes que tem sido recorrentemente comparados ao filme de David Lowery, que não se deixem levar por esses pequenos detalhes, é um filme único.

Mais um (bom) título do selo A24 (Moonlight, A Bruxa, O Quarto de Jack, Ao Cair da Noite etc) que será discutindo por um bom tempo, e quem sabe, concorra na temporada de premiações por roteiro original. A Ghost Story apresenta o que o cinema tem de melhor: usar sua proximidade com o fantástico para que o público se questione e reflita sobre a sua natureza.

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