O Cinema de Sofia Coppola

O sobrenome renomado já faz parte da herança. Sofia, filha de Francis Ford Coppola, desde pequena já acompanhava o pai em diversos sets de filmagens. Sua primeira aparição no cinema foi com apenas um ano de idade, participando do elenco de “O Poderoso Chefão” e se mantendo presente também nas outras duas continuações. Trabalhou como atriz em alguns outros filmes, e até teve uma breve aparição em “Star Wars Episódio I”, mas seu diferencial estava mesmo na direção e no roteiro, no toque delicado de cada elemento escolhido para seus filmes: protagonistas femininas de forte presença, referências constantes à cultura pop e temas recorrentes como o vazio existencial e a solidão, tal estilo cinematográfico totalmente distinto de seu pai. 
Foi em 1999 que Sofia deixou de ser conhecida apenas como “a filha de Francis Coppola” e estreou seu primeiro longa-metragem: “As Virgens Suicidas”. Protagonizado por Kirsten Dunst, o filme conta a história de cinco irmãs que vivem com seus pais religiosos e conservadores no auge dos anos 70. O universo melancólico é construído através da ajuda da trilha sonora e das cores pastéis que envolvem todas as cenas. Tais componentes ajudam a mostrar, com contraste, o drama e a beleza da juventude. 

As irmãs mexem com o psicológico de todos os garotos da vizinhança, fazendo-os espioná-las para entender porque sempre aparentam desânimo. A vida das garotas é afetada pelo molde tradicionalista que a família impõe dentro de casa, o que gera entre elas uma angústia suprema
Cecília, a mais novas das irmãs,  é a primeira a recorrer à atitude extrema
A diretora nos apresenta uma visão através da qual é enxergada pelas personagens, portanto, os detalhes artísticos são de extrema importância para tratar de um assunto tão delicado. Após uma falha tentativa de suicídio, a irmã mais nova carrega nos pulsos a atadura do ferimento, e para esconder – e tentar mascarar para si mesma – a realidade em que está inserida, a menina cobre o curativo com suas pulseiras de contas coloridas. 

Que já fique claro: uma das maiores características de Coppola são essas técnicas ímpares na escolha das particularidades de seus personagens. A arte que os permeia é de extremo valor para compreendermos o universo sugerido pela diretora. 
A cor fria acentua a dramaticidade da personagem
Encontros e Desencontros”, lançado em 2003, foi o segundo filme de Coppola e rendeu à diretora o Oscar de Melhor Roteiro Original e indicação de Melhor Diretora - Sofia foi uma das poucas mulheres a concorrer na categoria -, o que tornou esse o trabalho de maior destaque dentro de sua filmografia. O longa é filmado no Japão, protagonizado com maestria por Scarlett Johansson e Bill Murray. A história retrata o encontro por acaso de Charlotte, que está em Tóquio para acompanhar seu marido fotógrafo em um trabalho, com Bob Harris, um ator de meia idade que está na cidade para gravar um comercial de uísque. 

A paleta de cores - escolha das cores para transmitir emoções e criar atmosferas nas cenas - auxilia no processo de percepção do espectador perante a transformação de Charlotte. Ela era inserida em ambientes cinza, com cores frias e apáticas, assim como ela se sentia pelo esposo ceder mais atenção ao trabalho do que à ela - isso porque são recém-casados -.

 Após o encontro com Bob, os ambientes ganham tonalidades quentes, os figurinos mudam e ganham mais notoriedade. A trilha sonora guia a narrativa e o universo de sentimentos dos personagens; se antes era difícil para Bob conseguir se imaginar fazendo algo divertido em Tóquio, bastou um encontro casual com Charlotte no bar do hotel para que sua perspectiva mude. O choque de gerações é substituído pela troca de experiências, e é dessa forma que o roteiro se torna uma obra-prima. A fotografia é sensível, Sofia Coppola não teme a falta de ação, o público pode admirar com calma os momentos entre a amizade de Bob e Charlotte, sem nunca faltar expressividade nas cenas.
Cores pastéis envolvem todo o figurino 
Seu maior sucesso de bilheteria foi “Maria Antonieta”, de 2006. Interpretada por Kirsten Dunst, a história apresenta uma outra perspectiva da biografia da rainha, em que Coppola usa elementos contemporâneos para criar uma aproximação entre a figura memorável que Antonieta representa com os dias atuais. Novamente, é através dos detalhes sutis que ela consegue esse resultado: cupcakes decorados como sobremesa, um par de All Star no meio de seus inúmeros calçados sofisticados ou até uma trilha sonora que conta com o som da banda The Strokes. Os cenários são nobres, ricos em cores claras e decorações. 

A diretora retrata desde o início da vida da austríaca Maria Antonieta, em que é forçada a se casar apenas com quatorze anos com um francês herdeiro da coroa, com o objetivo de criar laços entre os países que eram inimigos históricos. O povo francês vive uma ambivalência: ao mesmo tempo que a rejeitava, tratava-a como ícone pop de sua época. Antonieta era ligada a polêmicas e frases célebres. 

A crítica recebeu o filme como uma tentativa de biografia não convencional exagerada, em que o elo entre a “ícone pop” do passado com o presente não se firma. Entretanto, Coppola levou o Oscar de Melhor Figurino, o que tornou o longa uma referência para a moda. A diretora não deixa de avaliar vários acontecimentos, mas apresenta também uma versão de Maria Antonieta incompreendida, confusa, uma jovem mulher inserida em uma França volúvel, que foi abusada pela história e distorcida muitas vezes pelo povo. 
A letra das músicas que aparecem nos momentos "pai e filha" têm como temática a reconciliação 
Estrelado por Elle Fanning e Stephen Dorff, “Um Lugar Qualquer” (2010), retoma os temas já abordados por Sofia: descontentamento com o mundo, desânimo consigo e incompreensão. É nessa atmosfera que se encontra o ator, astro de Hollywood, Johnny Marco, que mesmo cheio de compromissos, leva uma vida boêmia, mas solitária. Os dilemas sentimentais o permeiam quando sua única filha faz uma visita inesperada – e longa – no hotel em que ele vive, acompanhando-o em suas obrigações no fim de semana. Sem escapatória, Johnny muda sua rotina e lembra do que é ser pai. 

A trilha sonora é, de novo, o diferencial da diretora, tornando o simples do filme algo genial. E mais uma vez, a protagonista é uma jovem que se vê forçada a viver no mundo da fama, mas sem realmente participar desse contexto. A própria diretora vivenciou esta questão em toda sua juventude, portanto, o longa contém elementos autobiográficos da cineasta. Talvez por ser um filme singelo - comparado aos outros -, não teve grande impacto no público, mas sua construção cinematográfica se mantém com a mesma excelência. 
O filme é baseado no livro "Bling Ring - A Gangue de Hollywood", da jornalista Nancy Jo Sales 
The Bling Ring” (2013), narra uma história real sobre um grupo de adolescentes deslumbrados pelo glamour. Tendo suas vidas vazias e pais negligentes, nada os impede quando decidem invadir a casa de famosos de Hollywood, assaltando alguns pertences. Com cenas recriadas dos assaltos e depoimentos, o filme traz uma pegada documentarista, com filmagens reais das residências de alguns famosos que foram vítimas da gangue. A diretora critica a sociedade do consumo e a própria mídia, que retrata de forma insaciável o cotidiano das celebridades, facilitando o sucesso dos roubos. Mesmo tendo Emma Watson no elenco, o filme divide o posto de protagonistas, revelando levemente a motivação de cada um e como enxergam a fama. 

É a primeira vez que Coppola não usa uma personagem principal loira; a gangue também tem um gosto eclético retratado por seu figurino, e o roteiro aparece através dos diálogos de forma coloquial. O estilo da cineasta se altera nesse filme, e talvez seja por isso que houve um estranhamento ao ver seu nome como direção do longa. Com um baixo orçamento, Sofia Coppola cumpre o objetivo do filme, que teve seu lançamento aguardado por muitos americanos. 
Novo longa de Coppola reitera parceria da diretora com a atriz Kirsten Dunst
A talentosa diretora retorna esse ano aos holofotes com um remake homônimo de “O Estranho que Nós Amamos”. Previsto para estrear no segundo semestre de 2017, o filme já está na lista dos mais aguardados do ano e já foi exibido no Festival de Cannes.

Compõe o elenco principal Nicole Kidman, Kirsten Dunst e Elle Fanning. A trama se passa no contexto da Guerra da Secessão, em que um soldado chega ferido à porta de um internato para mulheres. Ao ser acolhido, sua presença desencadeará traições, rivalidade e tensões sexuais. Confira o trailer:



Pelo trailer já é possível identificarmos uma paleta de cores usual em seus filmes. O longa concretiza uma forte parceria da diretora com Kirsten Dunst

Ainda não conhece sua filmografia? Aproveite então para ficar em dia e reconhecer o estilo da cineasta!
--

365 Filmes +Conteúdo +Notícias +Produtos +Cinema

A 365 Filmes é um conjunto de ferramentas que juntas formam um espaço totalmente voltado para o cinema. Seja através do conteúdo do blog, das notícias nas redes sociais ou dos produtos de nossa loja exclusivamente criados para os amantes da sétima arte, nossa motivação é divulgar, incentivar e inspirar cada vez mais cinema.