Reconhecida como local de invenção de novos
realizadores do cinema nacional, a Mostra Aurora nunca tinha contado com a
seleção de um mesmo diretor por dois anos consecutivos. Thiago B. Mendonça
reverteu essa lógica. Depois de ter sido premiado pelo júri na Mostra Aurora do
último ano com o filme "Jovens infelizes
ou um homem que grita não é um urso que dança" ele retorna com um proposta
curiosa: um filme infantil.
"Um Filme de Cinema" tem como trama a
realização de um filme por crianças. Instigadas pela proposta da professora de
narrar algo da imaginação, Bebeu (filha de Thiago Mendonça) decide fazer um
filme para poder contar sua história, ela pede ajuda ao pai cineasta que depois
de um primeiro momento de recusa decide emprestar uma câmera para que a filha
possa gravar as cenas que deseja. Envolto nessa história, a narrativa percorre
alguns caminhos interessantes quando, por exemplo, Bebeu se põe a entrevistar
algumas pessoas. De início pergunta ao pai “o que é cinema?”, mas é o filme que
toma essa pergunta pra si e busca responder o questionamento. Toma para isso
alguns diretores reconhecidos na história do cinema: Georges Méliès, Charlie Chaplin,
Buster Keaton, etc. As gravações vão conduzindo a narrativa e gerando confusões
com alguns sistemas de poder estabelecidos, como, por exemplo, com a diretoria
da escola. O filme, nesse sentido, estabelece uma relação metafórica com o
papel do próprio cinema como elemento de expressão numa zona de conflitos de
poder. Um Filme de Cinema caminha pela lógica dos filmes infantis que se
movimentam na tríade da aventura composta por: causa; consequências; e
aprendizagem/realização.
O segundo longa metragem do diretor
paulista parece ter a ideia de ser um filme possível de se ver com toda a
família, o que o torna um bom filme na proposta de entretenimento. Na sessão de
estreia, ocorrida na terça-feira no Cine Tenda da Mostra de Cinema de Tiradentes,
era possível encontrar crianças entusiasmadas com a história torcendo pela
protagonista, nesse aspecto, o cinema se revela como forma de reconhecimento do
mundo lúdico infantil.
Nos créditos finais encontramos a
dedicatória a Andrea Tonacci, que teria incentivado Mendonça a fazer um filme
com suas próprias filhas. “Para mim o projeto nasce da necessidade de deixar
algo para essa geração que está chegando. Gostaria de fazer um filme para elas
e acabei fazendo com elas”, comenta o diretor. Um Filme de Cinema certamente
não é um dos favoritos a levar o prêmio este ano, está longe de uma linguagem
inventiva que caracteriza essa premiação, mas o filme tem na fácil comunicação
com o público seu maior trunfo.