Venom (2018) - Um Anacrônico Anti-Herói

Venom (2018) é o resultado de uma aposta arriscada gestada pela Sony desde a primeira aparição do personagem-título no cinema, como um dos vilões de Homem-Aranha 3 (2007). De lá para cá, as coisas mudaram. Enquanto a Sony experimentava um recomeço para a franquia, a Marvel transformava de maneira irreversível o subgênero de filmes de super-heróis com o inquestionável aval do público, o que motivou uma parceria inédita entre dois estúdios para um "empréstimo" do personagem para a Marvel. O resultado foi o bem sucedido Homem-Aranha: De Volta ao Lar (2017). A Sony, contudo, continuaria tendo liberdade de explorar filmes derivados do vasto universo de personagens relativos a franquia do aracnídeo.

Coube ao diretor Ruben Fleischer, mais conhecido por Zumbilândia (2009), o desafio de transformar um dos mais famosos vilões dos quadrinhos em um anti-herói, sem a presença do Homem-Aranha como sua contraparte heróica, em uma trama que acompanha Eddie Brock (Tom Hardy), um repórter investigativo determinado em expor o inescrupuloso cientista Carlton Drake (Riz Ahmed), que está estudando misteriosos simbiontes alienígenas às custas da morte de várias cobaias.

Um dos grandes acertos do filme é o protagonista Eddie Brock, um personagem que se mostra capaz de sustentar uma trama por si só, com uma caracterização que foge conscientemente de vários dos arquétipos heróicos e anti-heróicos. Infelizmente, o mesmo não pode ser dito do vilão e da namorada de Eddie, Anne (Michelle Williams), cujas caracterizações são bastante simplórias e desperdiçam dois grandes atores com um roteiro de tom inconsistente e permeado por clichês.

O primeiro ato do filme sofre com uma sequência de cenas pouco interessantes, com diálogos flagrantemente expositivos e situações que se sucedem sem um necessário respiro narrativo para que se tenha um peso maior na caracterização e interação entre os personagens, preferindo priorizar uma subtrama desnecessária que toma um tempo que poderia ser melhor utilizado. Contudo, o filme ganha energia quando Eddie finalmente tem contato com o simbionte senciente Venom e cria uma relação de codependência com a incontrolável criatura, gerando acertadas doses de humor oriundas do choque de personalidades de ambos.

A ação também é um elemento bem executado no filme, com cenas que exploram desde referências pontuais, como uma perseguição de carro em São Francisco que evoca o clássico Bullit (1968), como outra que mistura a gramática visual padrão de filmes de body horror com elementos cartunesco com ares de O Máskara (1994), uma solução que funciona e abraça a controversa classificação PG-13 do longa. Estes acertos, porém, não impedem um terceiro ato absolutamente desinspirado, com um deja vù de clichês narrativos e visuais que datam o filme e faz lembrar os equivocados filmes de super-heróis da era pré-Marvel, como o indesculpável Mulher-Gato (2004). 

Em suma, Venom apresenta algumas boas ideias, mas seus elementos promissores são sufocados por um anacrônico apego a lugares-comuns e uma falta de confiança em fazer escolhas com disposição para conduzi-las mais além.

365 Filmes +Conteúdo +Notícias +Produtos +Cinema

A 365 Filmes é um conjunto de ferramentas que juntas formam um espaço totalmente voltado para o cinema. Seja através do conteúdo do blog, das notícias nas redes sociais ou dos produtos de nossa loja exclusivamente criados para os amantes da sétima arte, nossa motivação é divulgar, incentivar e inspirar cada vez mais cinema.