Tomb Raider - Uma Familiar Reinvenção

A franquia Tomb Raider teve início em 1996, no universo dos videogames, colocando os jogadores na pele da heroína Lara Croft. O sucesso foi tanto, que em poucos anos, em meados dos anos 2000, a franquia se expandiu para as telas grandes, lançando dois filmes estrelados por Angelina Jolie como a arqueóloga aventureira. Em 2013, Tomb Raider antes se reinventou na sua própria mídia de origem, trazendo sua já datada protagonista para a nova geração de consoles.

A nova versão cinematográfica, estrelando a atriz sueca vencedora do Oscar Alicia Vikander no papel de Lara Croft, deixa de lado a caracterização hipersexualizada e invulnerável da versão de Jolie. A nova adaptação, mais realista e "sombria", conta com uma Lara millennial de 21 anos, orgulhosa e imprudente. Assombrada pelo misterioso desaparecimento de seu pai Richard (Dominic West) sete anos antes, Lara insiste em ganhar a vida sozinha apesar de ter acesso a uma enorme herança, pois aceitá-la significaria enterrar de vez o seu pai e assumir a liderança da empresa da família, a Croft Holdings.

Tudo muda quando Lara descobre a verdade sobre o pai e o motivo do seu desaparecimento - a busca pelo túmulo de Himiko, uma lendária rainha pirata, cujos poderes sobrenaturais também são do interesse da misteriosa organização Trindade. Lara então parte em uma busca pela misteriosa ilha, com a esperança de aprender o que realmente aconteceu com seu pai. Após uma sofrida jornada, com a ajuda de Lu Ren (Daniel Wu), o filho do capitão do barco que levou Richard à ilha anos atrás, Lara consegue chegar até a ilha, onde encontra Matthias Vogel (Walton Goggins), um perturbado e cruel arqueólogo à serviço da Trindade.

Após uma protocolar, mas carismática apresentação da protagonista - graças à Vikander - o filme perde força, especialmente ao desperdiçar um bom elenco com personagens unidimensionais e errar o tom no drama familiar, administrado de forma pouco inspirada por uma série de flashbacks e interações que soam piegas e parecem sempre ficar no caminho de uma história mais interessante. O fato de ser uma "história de origem" torna o filme refém de uma série de convenções desse tipo de narrativa, ainda que em diversos momentos abra mão de desenvolver melhor os personagens na expectativa de fazê-lo em possíveis sequências.

O filme é claramente guiado pela ação, e quando esta favorece o trabalho de Vikander (evidentemente entregue ao papel) e se relaciona diretamente com a fisicalidade e superação de Lara na história, funciona bem, aliada à uma montagem certeira e boas coreografias. Porém, quando entram em cena os grandes cenários, a ação se torna genérica e se perde em meio à artificialidade do CGI, dando a impressão de ser um videogame que você assiste sem poder jogar. Uma das grandes sequências do filme, inclusive, é retirada diretamente do jogo de 2013. Um dos pontos altos do filme é a trilha de Tom Holkenborg (mais conhecido como Junkie XL), que consegue manter a atmosfera emocionante e épica, mesmo quando não é acompanhada pelos demais departamentos estéticos.

Tomb Raider provavelmente não será visto como o filme que finalmente quebrou a "maldição" dos filmes derivados de videogames, mas mostra que existe um caminho, ainda que ele mesmo se perca às vezes. O que redime é que o capitalismo flagrante de tantas outras adaptações, aqui é atenuado pelas intenções do filme, mais alinhado com as sensibilidades e demandas do público contemporâneo comum - a própria escolha de Vikander para interpretar uma versão mais "feminista" da personagem, é um sinal de tempos melhores, e, esperamos, filmes melhores.

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