The Post: A Guerra Secreta

O ano é 1971. Após três meses de estudo dos documentos vazados do Pentágono, o ‘The New York Times’ lança uma edição bombástica revelando que o governo norte americano mente para seu povo há mais de 30 anos. Entre as revelações, está a de que o governo sabia que não havia como vencer a Guerra do Vietnã e, ainda assim, continuou enviando soldados americanos para a morte. Mas após uma liminar federal, com base na antiga Lei de Espionagem, o jornal é proibido de publicar qualquer coisa sobre o assunto. Quando os documentos vazados chegam ao ‘The Washington Post’, e eles descobrem que a publicação de qualquer página daquele documento acarreta na acusação de conspiração contra o governo americano, caberá a uma mulher decidir se calar diante da oposição de um governo questionável ou defender a verdade e a liberdade de imprensa, correndo o risco de perder seu jornal e liberdade.

É neste cenário de extrema tensão e medo que se desenrola o novo filme de Steven Spielberg, feito “às pressas” assim que Donald Trump foi eleito Presidente dos Estados Unidos. Rodado e finalizado num período de apenas 6 meses, chegou ainda em dezembro aos cinemas norte americanos, trazendo Meryl Streep no papel da falecida proprietária e editora do ‘Post’, Kay Graham, e Tom Hanks como o ex-editor do jornal, Ben Bradlee. É notável que se diga que esta foi a primeira vez que contracenaram juntos! Por si só já vale o ingresso! E a química da dupla é fantástica. De um lado, um Hanks impulsivo, determinado, sempre convicto, tentando persuadir Graham a tomar seu lado. Do outro, uma Streep dando vida à uma personagem de fibra, que mede o tamanho das consequências que suas decisões e as de seus imediatos podem ter, que lida da melhor forma possível com uma crise interna que definirá o futuro de sua empresa na bolsa de valores, ao mesmo tempo em que tem de enfrentar, dia após dia, o machismo dos anos 70 dentro de seu próprio jornal.

Mas não é só a dupla de protagonistas que brilha, Spielberg reuniu um elenco de primeira para trazer esta estória para a tela grande. Destaques como Matthew Rhys, que ‘brinca’ de espião mais uma vez, e Bob Odenkirk, que dá vida a um dos repórteres investigativos do ‘Post’. Talvez a maior façanha de Spielberg neste filme seja a direção de atores. Extrair um elemento essencial de seu time: a tensão através do olhar. O medo, expectativa, dúvida e perigo são sempre reforçados pelo olhar, e o tempo dramático tanto da direção como da montagem é crucial para explorar mais essa virtude da obra. E, neste sentido, quem brilha intensamente é Streep. Através de seus olhos, conseguimos sentir todo o peso que está sobre seus ombros, em particular na cena do telefonema em que ela deve fazer uma importante escolha, sob enorme pressão. Streep tem a virtude das atrizes que nos fazem esquecer que estamos assistindo a filme. Quando está em cena, mergulhamos de cabeça na narrativa. ‘The Post’ nos lembra porque ela é considerada uma das maiores atrizes de todos os tempos!

A assinatura de Janusz Kaminski na direção de fotografia também merece ser reconhecida aqui. Seu eficiente jogo de luz e sombra compõe um dos conceitos criativos que guiam o filme. É de extrema importância aqui, ao lembrarmos que os personagens estão cobertos de apreensão. Para a maioria, está em jogo não apenas o emprego, mas a própria liberdade, visto que correm o risco de serem presos. Bob Odenkirk é particularmente agraciado pelo trabalho de Janusz, em uma cena com Jesse Plemons na qual seu rosto se enche de dúvidas, receios e incertezas.

É necessário também apontar que o enredo tem suas fraquezas. A principal deles é o excesso de alívio cômico, com a da personagem filha de Ben Bradlee que vende limonada. A jovem interfere em pelo menos umas 4 cenas, em momentos cruciais da narrativa. A mais notável e incômoda interferência ocorre em uma cena em que ela é vista ao fundo carregando as peças de sua barraca, distraindo-nos de um importante diálogo em primeiro plano, apenas para extrair algumas risadas. A ridicularização da figura do Presidente Nixon tende ao caricato por vezes excessivo. São com excessos como esses que Spielberg se perde em alguns momentos.

“The Post”, apesar destes deslizes, se sustenta. É uma importante odisseia não só de luta contra o autoritarismo e a favor da liberdade de imprensa, como a jornada de ascensão de uma mulher lutando para ganhar seu espaço e direito de decisão. Streep ascende sua personagem a uma posição de júbilo em um tempo em que ser mulher em posição de poder era considerado ultrajante.


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