Suspense e surreal se encontram em Mate-me Por Favor


“A cidade dorme!” Essa ingênua brincadeira infantil que as personagens jogam reflete em suma a natureza ambígua dessa premiada produção. Mate-me Por Favor faz jus ao seu nome ao retratar um grupo de amigas numa jornada estranha pelas descobertas sexuais de suas juventudes. O filme não passaria apenas de mais um suspense adolescente se não fosse pela presença de questões mais profundas que borbulham sob a superfície frágil dos clichês que o roteiro recorre de propósito.

Bia (Valentina Herszage), Michele (Júlia Roliz), Mariana (Mariana Oliveira) e Renata (Dora Freind) nos levam numa espiral de curiosidade e fascínio mórbidos pelo assassino em série que ataca a região da Barra da Tijuca. O enredo sempre gira em torno do sexo e da violência, e no encontro entre os dois. A constante busca e repressão da sexualidade parecem inapropriadas e até mesmo perigosas com a ausência total de personagens adultos, desta forma, ideias de culpa e punição não demoram muito a aflorar.



Com uma ficha técnica composta majoritariamente de mulheres, tanto na frente quanto atrás das câmeras, o filme subverte o próprio gênero do terror, famoso por ter as mulheres como vítimas preferidas. Há décadas, essas produções atraem milhares de pessoas para as salas de cinema objetificando o corpo feminino como fonte primária de prazer e horror. Os gritos histéricos que embalam a introdução do filme servem de ponto de partida para a desconstrução feita com maestria na estreia, tanto no roteiro quanto na direção, de Anita Rocha, ganhadora do prêmio de melhor diretora no Festival do Rio de 2015.

A religião é um elemento constante na história



Rocha constrói uma distopia muito próxima da nossa realidade e que não precisa de muito para gerar estranhamento. Desde a trilha sonora cheia de músicas funk ao culto religioso pregado por uma jovem em frente a uma cruz neon, Mate-me Por Favor cria um cenário único que remete ao surrealismo de David Lynch, nos lembrando que, apesar do apelo físico, a trama é primariamente psicológica.

Mate-me Por Favor, irônico desde o seu título, tem vários atrativos: as performances convincentes, a boa química entre as personagens, a bela e criativa fotografia e o frescor da direção promissora de Anita. No entanto, assim como na puberdade, o anseio por descobertas é o que nos move. A constante dúvida ofusca a realidade de que o assassino não é completamente desconhecido pela audiência. O espectador é cúmplice nessa história e, por isso, as personagens nos encaram constantemente. 

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