Procurando Dory é um daqueles filmes que você vai ao cinema com um milhão de expectativas, mas sabendo que já vai gostar só por ver aqueles personagens que te marcaram tanto. Porém, ao sair do cinema eu tinha um gosto amargo na boca e, só algumas horas depois, eu pude perceber o porquê: o reconhecimento.
Se em Procurando Nemo a perda de memória de Dory servia como alívio cômico, aqui ele é mostrado como um problema mental que desencadeia vários conflitos e muda a vida da peixinha para sempre. A deficiência de Dory não era um incômodo antes, pois não sabíamos o que ela tinha perdido. Assim que o filme nos apresenta o passado dela, percebemos o quanto aquilo era sério e o quanto ela lutava consigo mesma.
No primeiro filme, a Dory me ensinou uma lição que repito comigo até hoje: continue a nadar. Isso significa continuar lutando e seguindo em frente, não importa o que aconteça. Nessa aventura, a personagem tem um novo lema, que não tínhamos visto antes: me desculpe. Ela é um poço de “sinto muito”, sempre pedindo desculpas por algo que não era culpa dela e vivendo constantemente com medo de esquecer as coisas e, principalmente, as pessoas. Dory tem consciência do seu problema e sabe como conviver com ele pode se tornar um fardo. E, por isso, ela se desculpa o filme todo, mesmo sabendo que tudo se repetirá. É inevitável.
Em um dos diálogos mais fortes do filme (que com certeza faz qualquer marmanjo suar pelos olhos), Dory pede novamente desculpas aos seus pais por ter se perdido e por não se lembrar. Ela diz que não tem domínio dos seus pensamentos e memórias e isso machucou muito aqueles que ela amava. Isso representa o que muitas pessoas com problemas mentais gostariam de dizer, mas não o fazem, afinal quem entenderia? Dory exemplifica esse sofrimento de um modo tão simples que é impossível passar desapercebido.
A Pixar trouxe um filme infantil com uma mensagem tão poderosa que não é possível sair da sessão sem aquela impressão de “eu já vivi isso” ou “eu conheço alguém que é assim”. E, para as crianças que talvez não vejam esse ensinamento de maneira tão clara, fica só a alegria de ver vários personagens (com problemas mentais ou outras deficiências) vivendo aventuras dignas de grandes heróis.