Ocidente x Oriente: Porque as adaptações geram conflitos

Dentro da perspectiva cinematográfica, as divergências dos polos mundiais são bem evidentes. Sejam influências geradas pela cultura, pela religião ou por diversos conceitos e teorias que fazem com que a compreensão do lado oposto se torne um processo difícil e em muitas vezes, polêmico.

Analise algum conteúdo oriental, por exemplo (já que somos ocidentais): a cultura que exibe algum tipo de repressão ou fundamentação religiosa e científica, que não é explícito para nós. Mas como isso é relacionado ao universo do cinema?

Bem, andando por fora da curva de grandes clássicos orientais, como os filmes de Akira Kurosawa e as novas tendências que o cinema sul-coreano dita atualmente, com os diretores Chan-wook Park e Kim Dong-Won, que transcendem para um entendimento mais fácil. Os filmes orientais, oriundos de grande parcela do Japão, principalmente feitos em seu característico traço de animação (anime), trazem produções que quando implementam a ficção, usam fortemente a fantasia e liberdade de interpretação que o espectador possa absorver e processar.

No entanto, a indústria cinematográfica de cá, quando planeja realizar alguma adaptação de mangás e até mesmo das próprias animações já criadas, a contradição se pega justamente neste ponto: como trazer uma cultura da qual não temos acesso/consumo/informação diariamente e, por consequência, é intrínseco ao cotidiano social, para outra sociedade que consome e vive outra cultura?

Como fazer uma adaptação de uma mangá/anime tão influente no meio cultural (literatura/games/cinema) como Akira funcionar no estilo linguístico ocidental? Animações mais recentes, como Paprika por exemplo, também possuem uma linguagem mais abstrata e escatológica, em que não seja necessário detalhar e explicitar os conceitos e os atos da animação.

Alguns eixos, em decorrência dessa modelagem necessária, são diagnosticados previamente e trabalhados:

A) Vamos utilizar o universo de Akira, animação de Katsuhiro Ôtomo. A neo-tokyo, a distopia futurística pós apocalíptica que mescla um cenário tecnológico super desenvolvido, mas que apresenta o contraste de cenário ao mostrar os guetos e as condições insalubres de educação/moradia/saúde. Bem, pode ser analisado tendo como base o convívio da sociedade pós guerra nuclear. No entanto, o filme não explica essa distopia, o sentido de "madness" que toma conta da população. Das particularidades sobrenaturais atrelados à ciência e isso se deve a um contexto: não é necessário. Você simplesmente implanta tais informações e as deixam ser absorvidas e discutidas. Você precisa explicar por exemplo em Ghost In The Shell, a sociedade e a relação dela com a tecnologia mano-andrógena? Não é questão de massificação e sim, mudar o puro sentido que foi criado.



B) Nem sempre a história que veio a ser adaptada é contada da mesma forma, mantendo a originalidade. Roteiros sempre são alterados quando há alguma apropriação com propósito de expô-lo e expressá-lo de outra maneira. Sejam alterações leves ou rescrições. E dentro desses roteiros originais, há o baseamento na cultura da qual você não está inserido. Ao trazer para um universo diferente, seja ele mais receptível ou não, os riscos são enormes. Por que acha então que o remake americano do sul-coreano Oldboy (2002), dirigido por Spike Lee, perdeu a essência e assim, deturbou o contexto original?


Talvez o meio que mais é retratado nesse universo adaptativo são os filmes de terror que comumamente derivam das lendas urbanas japonesas. Aliás, curioso notar o grande centro de histórias populares que o país possuí e o aproveitamento delas, gerando bons filmes de terror. Novamente, no entanto, cai em diversos conceitos. Na diferença de culturas em que, por mais que as adaptações de O Grito e O Chamado sejam boas, a ambientação para aquele universo original não é bem desenvolvida. Você consegue analisar o filme separadamente de sua obra e com isso, há possibilidade de vê-lo com um bom filme. Porém, quando não consegue separá-lo, tanto sua compreensão como filme quanto adaptação, são danificadas.



C) Apropriação e identificação cultural: Este é um mundo em completa expansão, você miscigena e mistura conceitos, histórias, comportamentos e ideologias além de sua localização geográfica. Portanto, quando você utiliza essas tais manifestações, das quais você não faz parte devido a inúmeros critérios, será que está se apropriando de uma cultura e, ao não saber aproveitá-la, está adulterando sua origem e assim, ilustrando uma mensagem incorreta, caracterizando alguma incoerência moral/ética?

Não obstante que temos estas claras má utilizações, eu diria, destas diferenças culturais. Através deste texto, não critico a utilização. Eu creio que adaptações devem ocorrer, mas claro, sabendo realizá-las à partir de ferramentas que irão conduzir ao resultado que, na minha opinião, deve ser o equilíbrio em manifestar a origem desta obra que irá adaptar e juntar à perspectiva na qual está localizado.

O universo de adaptações cinematográficas dentro desse contexto é bem complicado, exige uma capacidade e cautela muito bem qualitativas. Caso contrário, há perdas que irão refletir em qualquer sociedade e cultura.

Texto de Adolfo Molina Neto / Rolo Elétrico

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