Nova Hollywood: o movimento de renovação no Cinema Americano

Na segunda metade da década de 1960, o cinema americano passava por uma transformação. A essa altura, chegava com força o movimento que ficou conhecido como Nova Hollywood, uma revolução cinematográfica que chegou para abordar temas polêmicos e desafiar tabus de sua época. 

Naquela altura, a temática da segregação racial já começava a ser explorada no cinema norte-americano. Destaquemos alguns exemplos: em Doze Homens e uma Sentença (1957), primeiro filme de Sidney Lumet, doze jurados discutem o destino de um homem negro acusado de matar o pai; Em Acorretandos (1958), dois prisioneiros fugitivos, um negro (Sidney Poitier) e um branco (Tony Curtis), se veem obrigados a passar toda a fuga juntos, uma vez que estão acorrentados pelo pulso; Em Anatomia de um Crime (1959), o advogado interpretado por James Stewart tem a função de defender um tenente do exército branco acusado de matar um homem negro que, supostamente, teria violentado sua esposa. Uma das obras mais notáveis da época, O Sol é para Todos (1963), apresenta Gregory Peck como um advogado que defendia um negro acusado de estupro em uma cidade do Sul dos Estados Unidos. Porém, foi em 1967, um ano após o lançamento de Caçada Humana, que o tema do racismo deixaria uma real marca no cinema norte-americano, e isso se deve ao lançamento de três filmes em específico: Ao Mestre com Carinho, Adivinhe Quem Vem para Jantar e No Calor da Noite, todos estrelados por Sidney Poitier, um dos primeiros atores negros a gozar de certa popularidade em Hollywood.

De acordo com o autor Mark Harris em seu livro Cenas de uma Revolução: o Nascimento da Nova Hollywood, “mais de uma década depois de a lista negra do senador McCarthy ter feito com que boa parte da produção cinematográfica se afastasse das questões políticas, o movimento pelos direitos civis vinha se tornando a oportunidade ideal para que muita gente em Hollywood adquirisse o direito de se manifestar nesse sentido”.

Vale destacar que grandes nomes do cinema adotaram o ativismo político paralelamente a sua profissão, como Marlon Brando, Paul Newman, Gregory Peck, Robert Wise, Jane Fonda e Barbra Streisand. Newman, por exemplo, chegou a marchar ao lado de Brando na capital Washington, em agosto de 1963, em um famoso ato pelos direitos civis. “A marcha pelos direitos civis foi um momento de renascimento da politização em Hollywood, que, segundo o colunista do The New York Times Murray Schumach, decidiu reunificar o país depois de quase dezesseis anos de secessão espitirual", explica Mark Harris. Como ator e ativista, Gregory Peck rejeitava o status de “benfeitor”, no entanto não escondia suas posições político-sociais a ponto delas inteferirem em seu trabalho como ator, o que ocorreu no filme O Sol é para Todos, "Não sou um benfeitor. Me envergonharia ser classificado como humanitário. Eu simplesmente participo de atividades em que acredito", afirma Peck.

Os anos 60 chegavam ao fim e ficaram pelo caminho seus grandes símbolos: Marilyn Monroe, Montgomery Clift, Martin Luther King, Robert Kennedy, Sharon Tate, dentre outros. Marlon Brando, para o bem ou para o mal, ainda era um dos poucos símbolos dos anos 50 e 60 na ativa.


Juntamente a tudo isso, os anos 60 levavam consigo uma década extremamente atípica para o cinema. O grande sucesso Se Meu Apartamento Falasse (1960) abordou temas polêmicos como adultério, Adivinha Quem Vem para Jantar (1967) tocou na delicada questão racial, Perdidos na Noite (1969) abordou o tema da prostituição masculina. Outro filme decisivo foi o clássico de Mike Nichols, A Primeira Noite de um Homem (1967). “Se a maior parte do cinema americano fora até então convencional, esse filme de Nichols conecta o velho mundo com o novo apontando para o cinema mais experimental que viria na década de 70”, conclui a escritora e editora Carol King. O cineasta Michelangelo Antonioni lança Blow-up (1966), com cenas explicitas de sexo e consumo de drogas, já o surrealista Luis Buñuel chocou a todos ao contar a história de uma tímida dona de casa que, por livre iniciativa, adentra o mundo da prostituição, em A Bela da Tarde (1967). John Cassavetes introduziu o cinema independente em plena Hollywood. Alguns diretores de sucesso da televisão como Arthur Penn, Norman Jewison, Mike Nichols e Sidney Pollack migraram para o cinema, diretores americanos de sucesso como Stanley Kubrick e Richard Lester optaram por se estabelecer na Grã-Betanha, por outro lado cineastas estrangeiros como John Schlesinger, John Boorman e Roman Polanski partem para Hollywood.

Níveis até então nunca vistos de violência são mostrados explicitamente em Os Doze Condenados e Bonnie e Clyde (ambos de 1967), e Meu Ódio Será tua Herança (1969). O Western, gênero tipicamente americano, começa a ser produzido na Itália – um movimento que ficou conhecido como Spaghetti Western – revelando três grandes nomes, o ator Clint Eastwood, o diretor Sergio Leone e o compositor Ennio Morricone. “A história dos filmes de Hollywood da década de 60 também pode ser considerada pelo viés da mudança dos padrões de censura e das atitudes político-sociais. Aquela foi uma época de transição entre o Rat Pack e Woodstock, entre a camelot idealista de John Kennedy e as mobilizações fervorosas a favor dos direitos civis e contra a Guerra do Vietnã”, analisa o romancista, crítico e locutor Kim Newman.

Entre os gêneros que também marcaram presença nos anos 60, vale destacar os filmes de espionagem, como os da série James Bond, revolucionárias ficções científicas, como O Planeta dos Macacos e 2001: Uma Odisseia no Espaço (ambos de 1968), além de novos terrores como A Aldeia Amaldiçoada (1960), A Noite dos Mortos Vivos e O Bebê de Rosemary (ambos de 1968).

Vale destacar também que, a esta altura, Hollywood recebeu influência direta da Nouvelle Vague francesa, movimento cinematográfico liderado por Jean Luc-Godard e François Truffaut cujos filmes apresentaram uma abordagem mais ambiciosa, autoral e liberal do ponto de vista formal narrativo, em comparação com os filmes comerciais produzidos pelos grandes estúdios na época. A vanguarda e contracultura da Nouvelle Vague fez surgir novos atores, diretores, gêneros e subgêneros de filmes, deixando muitos outros ultrapassados.

Todo o movimento cinematográfico americano visto nos anos 60 – principalmente o da segunda metade da década – também sob influência do cinema mundial, ficou conhecido como “Nova Hollywood”. A essa altura, cineastas como William Wyler, Billy Wilder e Elia Kazan representavam o que havia de mais antiquado. Nas palavras de Sidney Pollack, a velha Hollywood simbolizava “as mesmas pessoas fazendo as mesmas coisas que vêm fazendo nos últimos 25 anos”.

Os anos 70 chegavam trazendo notoriedade a uma nova geração formidável de cineastas, que incluía Martin Scorsese, Woody Allen, Steven Spielberg, George Luccas, Michael Cimino, Brian de Palma, Peter Bogdanovich, Paul Schrader, Paul Mazursky, John Milius, John Carpenter, William Friedkin e Francis Ford Coppola. Surgiria também uma nova leva de atores brilhantes, com Al Pacino, De Niro, Gene Hackman, Robert Duvall, Diane Keaton, Dustin Hoffman, Jack Nicholson, Robert Redford, Jane Fonda, Barbra Streisand, Elliott Gould, Richard Dreyfuss e Meryl Streep.

A história do cinema e de sua linguagem está devidamente organizada e catalogada por movimentos como "expressionismo alemão", "neorrealismo italiano", "nouvelle vague", entre outros. A "nova hollywood", com sua novas formas de expressão e personagens, foi certamente um dos mais decisivos na construção e consolidação do que compreendemos hojr por "cinema contemporâneo". Seu legado é sentido mesmo após mais de cinquenta anos de seu surgimento.

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