Homem-Aranha no Aranhaverso (2018): O começo de uma nova Era

Desde 2008, ano de estreia de Homem de Ferro e Batman - O Cavaleiro das Trevas, o universo do “filmes blockbusters” foi tomado por um crescente número de adaptações cinematográficas de diversos personagens de quadrinhos, originando franquias de sucesso e criando uma indústria bilionária que alçou um imaginário que até então estava restrito aos nerds ao status de cultura pop. Como em toda ideia ou forma de expressão, porém, há um ponto de esgotamento. Neste caso, o conforto financeiro oriundo do sucesso nas bilheterias originou uma leva de adaptações formulaicas e esteticamente preguiçosas, beirando o indistinguível. Houveram, é claro, exceções que ousaram uma aproximação com outras possibilidades de estética e de gênero, como Logan (2017).

Tangencialmente a esta, há uma outra vertente de adaptações, sintonizadas com uma linguagem cinematográfica pós-moderna, caracterizada principalmente pela intertextualidade, a autorreferencia e o pastiche. Nos quadrinhos, o exemplo mais famoso talvez seja Watchmen (1986), de Alan Moore. Já nas adaptações cinematográficas, podemos considerar Kick-Ass (2010) e mais recentemente, Deadpool (2016).  Neste contexto, Homem-Aranha no Aranhaverso (2018) potencializa os elementos-chave que compartilha com os filmes supracitados, e cria uma obra que dilui ainda mais as fronteiras entre o quadrinho e a animação ao mesclar diversos artifícios próprios de cada mídia (multitelas, balões de pensamento, voice-overs e etc.), originando uma estimulante narrativa híbrida.

Beneficiando-se da diversificada experiência técnica de seu trio de diretores - Bob PersichettiPeter Ramsey e Rodney Rothman - , mais creditados até então em funções como roteiro,  direção de arte e animação - o filme vai na contramão do engessamento estético-narrativo presente na maioria dos exemplos do gênero, lançando mão de um "Aranhaverso" povoado por personagens derivados da franquia Homem-Aranha para uma abordagem inédita nas telas. Os fãs de quadrinhos já estão acostumados a acompanhar diferentes versões dos personagens coexistindo no "multiverso" das histórias; no cinema, porém, o recurso era um território intocado, ainda que extremamente fértil e bem-vindo dentro deste contexto de saturação e familiaridade.

Coube ao ágil roteiro de Phil Lord, conhecido por escrever e dirigir Uma Aventura Lego (2014) a apresentação deste conceito potencialmente complexo através de uma premissa simples: O vilão Rei do Crime (Liev Schreiber), desenvolve uma tecnologia que coloca a própria realidade em perigo ao convergir diferentes dimensões em uma só. Após a derrota do Homem-Aranha da sua dimensão, cabe ao adolescente Miles Morales (Shameik Moore) assumir a identidade do herói e utilizar seus poderes recém-adquiridos para salvar o universo juntamente com os "Aranhas" de outros universos: o desmotivado e fora de forma Peter B. Parker (Jake Johnson), a habilidosa Gwen Stacy (Hailee Steinfeld) e os inusitados Porco-Aranha (John Mulaney), Peni Parker (Himiko Glenn) e o "Aranha Noir" (Nicolas Cage).

A simplicidade da trama permite que o foco se dê na interação entre os personagens principais, que orbitam sempre em torno da figura de Miles - seja como interesse romântico ou figuras paternas, - oportunizando que sua cativante jornada de herói seja também uma jornada de amadurecimento na qual ele entende que "qualquer um pode usar a máscara" e descobre como ser um herói à sua maneira, reinventando para si e para o público o conceito de um personagem icônico e o trazendo para novos tempos.

Coube à Sony, anteriormente marcada por abordagens equivocadas em relação ao universo do Homem-Aranha, a tarefa de trazer esta versão diferente de um personagem querido pelo público, contando uma nova história de origem que aposta acertadamente na animação como a forma de fazê-lo, inaugurando uma nova fase para o personagem em um meio com diferentes e promissoras possibilidades para contar novas histórias. Vai, Aranha!


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