Creed II (2018) - Confrontando o legado

Quando esteve em sua melhor forma, a franquia "Rocky" soube equilibrar os temas de superação no ringue com a superação na vida pessoal, muitas vezes entrelaçando-os como fatores absolutamente condicionais, algo que Ryan Coogler entendeu perfeitamente e aplicou à sua maneira ao dirigir o derivado Creed (2015). O filme foi uma grata surpresa que não apenas catapultou a carreira de Coogler e Michael B. Jordan - que interpreta o personagem título Adonis Creed - ao “mainstream”, como também revitalizou uma franquia cujo último capítulo, Rocky Balboa (2006) havia sido um adequado pedido de desculpas e um pretenso encerramento.

Com o aval da crítica e dos fãs, o grande desafio da inevitável sequência seria provar a capacidade dos novos personagens em dar continuidade à franquia e criar novas histórias sem depender da bagagem dos filmes anteriores. Para comandar a sequência, foi escolhido o diretor Steven Caple Jr., indicado pelo próprio Coogler.

A missão de Caple Jr. como diretor era ingrata - ao mesmo tempo que deveria seguir dando voz própria aquele universo, estava vinculado a referenciais icônicos e à abordagem extremamente bem sucedida de seu antecessor. De modo geral, as escolhas feitas por Caple Jr. dão origem a um filme no qual a nostalgia e o apego ao passado informam diretamente o drama dos nossos personagens, uma decisão acertada que proporciona o retorno do infame Ivan Drago (Dolph Lundgren) e seu filho Viktor (Florian Munteanu) para um acerto de contas com Adonis e Rocky. É uma premissa que funciona perfeitamente como uma metáfora dos dilemas criativos do filme: confrontar o passado para poder seguir em frente e trilhar o seu próprio caminho.

Apesar de reconhecer e acolher o legado da franquia e o trabalho de seus antecessores, Caple Jr.  consegue imprimir sua marca distinta, especialmente no âmbito visual, através da direção de fotografia de Kramer Morgenthau  (conhecido por Game of Thrones) que explora frequentemente  o uso de luzes diegéticas para destacar seus personagens com uma estética de "videoclipe elegante". Em contraponto a isto está o roteiro escrito a várias mãos que deixa de lado a sutileza do material de Coogler e retrocede na caracterização de personagens principais como Adonis, Bianca (Tessa Thompson) e Rocky para justificar alguns momentos dramáticos que são conduzidos de maneira previsível e soam um tanto repetitivas. Apesar disso, o roteiro acerta no arco dramático humanizador de Ivan Drago e seu filho, com direito até mesmo a uma inversão de papéis que soa genuína e agradará os fãs.

Em termos dramáticos, Creed II funciona melhor como uma sequência para Rocky IV do que para o filme anterior, e mesmo que não atinja o patamar de qualidade do seu antecessor, é uma continuação digna do seu nome e proporciona liberdade total para o seguimento da franquia sem mais pendências com o passado.

365 Filmes +Conteúdo +Notícias +Produtos +Cinema

A 365 Filmes é um conjunto de ferramentas que juntas formam um espaço totalmente voltado para o cinema. Seja através do conteúdo do blog, das notícias nas redes sociais ou dos produtos de nossa loja exclusivamente criados para os amantes da sétima arte, nossa motivação é divulgar, incentivar e inspirar cada vez mais cinema.