Quando esteve em sua melhor forma, a franquia "Rocky" soube equilibrar os temas de superação no ringue com a superação na vida pessoal, muitas vezes entrelaçando-os como fatores absolutamente condicionais, algo que Ryan Coogler entendeu perfeitamente e aplicou à sua maneira ao dirigir o derivado Creed (2015). O filme foi uma grata surpresa que não apenas catapultou a carreira de Coogler e Michael B. Jordan - que interpreta o personagem título Adonis Creed - ao “mainstream”, como também revitalizou uma franquia cujo último capítulo, Rocky Balboa (2006) havia sido um adequado pedido de desculpas e um pretenso encerramento.
Com o aval da crítica e dos fãs, o grande desafio da inevitável sequência seria provar a capacidade dos novos personagens em dar continuidade à franquia e criar novas histórias sem depender da bagagem dos filmes anteriores. Para comandar a sequência, foi escolhido o diretor Steven Caple Jr., indicado pelo próprio Coogler.
A missão de Caple Jr. como diretor era ingrata - ao mesmo tempo que deveria seguir dando voz própria aquele universo, estava vinculado a referenciais icônicos e à abordagem extremamente bem sucedida de seu antecessor. De modo geral, as escolhas feitas por Caple Jr. dão origem a um filme no qual a nostalgia e o apego ao passado informam diretamente o drama dos nossos personagens, uma decisão acertada que proporciona o retorno do infame Ivan Drago (Dolph Lundgren) e seu filho Viktor (Florian Munteanu) para um acerto de contas com Adonis e Rocky. É uma premissa que funciona perfeitamente como uma metáfora dos dilemas criativos do filme: confrontar o passado para poder seguir em frente e trilhar o seu próprio caminho.
Em termos dramáticos, Creed II funciona melhor como uma sequência para Rocky IV do que para o filme anterior, e mesmo que não atinja o patamar de qualidade do seu antecessor, é uma continuação digna do seu nome e proporciona liberdade total para o seguimento da franquia sem mais pendências com o passado.