Não dá para falar de Paul Thomas Anderson sem falar de seus protagonistas. Desde o final da década de 90, o norte-americano vem se estabelecendo como um excelente contador de histórias, e é através do estudo de personagem que ele desenvolve narrativas surpreendentes e admiráveis. Em seu oitavo longa, Anderson retorna a todo vapor, assumindo três cargos de grande importância: a direção, o roteiro e a fotografia.
Ambientado nos anos de 1950, Trama Fantasma é centrado no perfeccionista Reynolds Woodcock (Daniel Day-Lewis), que não está disposto a colocar nenhuma prioridade acima de sua brilhante carreira como estilista. Inflexível e um tanto excêntrico, ele se vê desafiado por Alma (Vicky Krieps), uma jovem não muito polida para sua rotina burguesa, mas detentora de uma personalidade tão forte quanto a dele. Os dois desenvolvem uma relação baseada num constante jogo de poder.
Não é a toa que o drama apresente as personagens femininas mais proeminentes da filmografia do diretor. Além de Alma, a grande mansão do estilista também abriga Cyril, a irmã apática que não agrega calor algum ao inverno londrino. A atriz Lesley Manville rouba a cena diversas vezes por ser a única capaz de domar a personalidade forte do protagonista. Juntas, as duas mostram como a petulância que Woodcock depende muito delas - e como elas podem facilmente destruí-la.
Na claustrofobia dos close-ups que dominam um dos dramas mais imersivos do diretor, vemos o potencial destrutivo de uma relação que parece começar num contexto amoroso, mas que se transforma em uma máquina imprevisível. Nesta segunda colaboração de Thomas Anderson com Day-Lewis, não é a brutalidade árida do Velho Oeste ou as engrenagens das bombas de extração de petróleo que estabelecem o tom de ameaça. É um suspense mais sutil, uma “morte silenciosa” que paira no ar.