O Insulto - Preconceito e Empatia

O Insulto (2017) é um longa dirigido pelo libanês Ziad Doueiri, conhecido pelos premiados filmes West Beirut (1998) e O Atentado (2012), além do seu trabalho como assistente de câmera para Quentin Tarantino nos filmes Jackie Brown, Pulp Fiction e Cães de Aluguel. 

O longa é um dos cinco concorrentes da categoria de Melhor Filme Estrangeiro do Oscar 2018 e a primeira indicação do cinema libanês no prêmio da Academia, apesar de ter corrido o risco de não ser sequer indicado, por conta das cenas filmadas em Israel, o que ainda é crime no Líbano. Graças ao apoio público, o filme seguiu carreira em festivais e venceu o prêmio do Audience Award da American Film Institute e o prêmio de Melhor Ator para Kamel El Basha no Festival de Veneza.

O filme, baseado em uma situação vivida pelo diretor, se passa em Beirute e acompanha o insulto explosivo que leva Toni (Adel Karam), um cristão libanês de direita, e Yasser (Kamel El Basha), um refugiado palestino, para o tribunal. A partir dessa premissa simples, o filme constrói uma interessantíssima alegoria para a situação política do Líbano, criando o drama a partir de uma situação aparentemente banal e cotidiana.

O grande trunfo do roteiro, também assinado pelo diretor e pela roteirista Joelle Touma, é criar personagens que se antagonizam ao mesmo tempo em que se assemelham em suas interioridades, algo que o filme explora habilmente, brincando com a“lealdade” do público a cada um na medida em que os personagens são expostos a situações de proporções cada vez maiores em meio ao circo midiático e a martirização de ambos.

A estrutura narrativa do filme, simples e concisa, nunca perde de vista os protagonistas, alternando, na maioria das vezes, as cenas de tribunal com momentos intimistas deles com suas esposas. Mesmo nas cenas onde estes não são o foco principal, é o conflito de ambos que motiva as relações e posicionamentos dos outros personagens, diversas vezes colocados, metaforicamente ou não, na posição de réus ou juízes de uma situação que em muito extrapola seu estopim original para tornar-se um novo capítulo de um interminável conflito histórico.

O filme funciona principalmente por abrir mão da abordagem caricatural ou maniqueísta, que embora possa funcionar como elemento básico na criação do drama, genericamente falando, aqui não serve a uma trama que se propõe a colocar seus personagens e o público em uma reflexão séria, interessada nos tons de cinza de temas que perpassam por guerras e conflitos históricos, ainda que dimensionados a partir de um evento tão circunstancial.

A abordagem realista do filme, contudo, é sensível o suficiente para perceber em seu desfecho que a empatia ainda é uma das mais poderosas e valiosas atitudes humanas, ainda que suas consequências possam não ser tão grandiosas ou duradouras.

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