“Era o Hotel Cambridge” propõe olhar atento aos movimentos que lutam por moradia

A ideia que nasceu como uma forma de retratar aqueles que lutam pelo direito à moradia logo se transformou em uma história ainda maior, que tem como palco central um antigo prédio paulista. Em “Era o Hotel Cambridge”, a diretora Eliane Caffé constrói uma trama que mostra brasileiros sem-teto e refugiados estrangeiros de lugares como Congo, Japão e Palestina vivendo no antigo hotel.  O filme aborda os dramas, medos, preconceitos, as dificuldades e relações estabelecidas dentro daquele espaço.

Um dos principais trunfos do longa é seu aspecto realista, remetendo em alguns momentos ao gênero documentário. Com enquadramentos e planos que colocam o espectador como testemunha próxima das cenas, a direção de Caffé é muito apurada em criar essa sensação de “ficção real”. Outro ponto que pesa nesse aspecto é o elenco, unindo artistas renomados como José Dumont e Suely Franco, mas também inclui desconhecidos interpretando a si mesmos. Com essa mistura, não chega a ser surpresa o quanto alguns diálogos parecem naturais e verdadeiros - mas não menos impactantes.
Suely Franco integra o elenco de peso do longa de Eliane Caffé
Graças a essa narrativa simples e focada nos personagens e em suas relações, no constante medo de ser despejado, nas dificuldades do dia a dia e até mesmo nos conflitos e dinâmicas que surgem dessa convivência multinacional - como a disputa sobre qual culinária é a melhor, por exemplo -, a história se desenrola. E esse desenrolar tem um ponto positivo que precisa ser destacado: humanizar essas pessoas.

Assim, é possível entender as motivações, dramas e desejos de quem quer apenas ter um espaço para chamar de lar - e não viver em um hotel abandonado, lugar que desde a época em que ainda funcionava sempre teve o propósito de ser passagem, e não moradia.

Em uma época em que refugiados e mesmo pessoas sem-teto estão muito em pauta na mídia e na política, “Era o Hotel Cambridge” cumpre o papel de transformar o que boa parte dos espectadores possa considerar como "apenas números" em uma estatística.
"Era o Hotel Cambridge" mistura ficção e realidade ao explorar a luta pelo direito à moradia
Com toda essa importância histórica e temática contemporânea, o longa se destaca não apenas por ser uma produção audiovisual competente, com direção sensível, grandes atuações e um trabalho de produção árduo e dedicado - que durou cerca de dois anos -, mas também como ferramenta de reflexão social

E essa é a característica que aproxima “Era o Hotel Cambridge” das grandes obras do cinema nacional que se destacaram em premiações como o Festival do Rio e o Festival de Cinema de Gramado. Afinal, grande parte do propósito da sétima arte é, além de entreter, mudar o mundo em que vivemos - ou pelo menos instigar essa mudança.
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