Seria mesmo o fim do mundo?




É Apenas o Fim do Mundo - Juste La Fin Du Monde, no original - dividiu a opinião do público e da crítica como nenhum outro filme do jovem diretor Xavier Dolan. A polarização foi tanta que ao mesmo tempo em que a produção foi vaiada em sua estreia em Cannes, também levou para casa o Grande Prêmio do Júri, segundo prêmio mais respeitado do festival atrás apenas da Palma de Ouro. O canadense fez jus ao seu título de enfant terrible trazendo uma inovação impressionante e uma certa rebeldia para as telonas. 

Baseado na peça homônima de Jean-Luc Lagarce, a história gira em torno de Louis, interpretado por Gaspar Ulliel (Hannibal - A Origem do Mal), um dramaturgo que retorna à casa de sua família, após uma longa ausência, para anunciar que está morrendo. Sua visita vai desencadear uma série de conflitos que tinham sido o motivo para Louis se afastar de seus familiares em primeiro lugar. O longa é uma história do mais puro amor expressado da forma mais turbulenta.

Novo filme de Dolan conta com nomes como Marion Cotillard e Vincent Cassel no elenco

Com o roteiro adaptado pelo próprio diretor, o filme não nega sua origem teatral. Os diálogos são extensos e alguns chegam a ser quase monólogos, o que rendeu ótimas performances do elenco. Os personagens de Vincent Cassel (Em Transe), Marion Cotillard (A Origem), Léa Seydoux (Azul é a Cor Mais Quente) e Nathalie Baye (Prenda-Me Se For Capaz) orbitam em torno do irmão visitante e, um por um, roubam a cena enquanto conversam em particular com Louis. Essa natureza teatral, no entanto, não anula a linguagem cinematográfica muito bem trabalhada. 

Dolan faz o que não poderia ser feito em um palco. Trocas de olhares entre os personagens e trejeitos mínimos tomam grande tempo de tela, enquanto as brigas – que, à primeira vista, parecem ser o ponto principal do enredo – são quase marginalizadas, muitas vezes acontecendo fora de campo. O foco e a iluminação assumem um tom subjetivo aos personagens e, aliados a uma montagem expressional, são de grande importância para a construção narrativa e sensorial da história. Isso tudo aliado à intensa trilha sonora de Gabriel Yared, que já tinha trabalhado com o diretor, em 2013, no suspense "Tom Na Fazenda". 
A trama carrega uma forte sensação de desconforto - apesar de seu tom intimista -


A trama tem um tom muito intimista, mas isso não quer dizer que é acolhedora. A família não tem carisma e é nessa falta de carisma que o elenco de peso baseia sua química tão dinâmica e conflitante. O espectador é posto numa posição de desconforto enquanto assiste aos conflitos se desenvolverem em ambientes limitados e em cortes em primeiríssimo plano. São esses elementos que dão o tom angustiante para a produção, fazendo a audiência se sentir tão sufocada quanto os personagens no incômodo calor do verão – que é constantemente criticado nas conversas em família.

insatisfação de grande parte do público com É Apenas o Fim do Mundo não passa despercebida, basta checar em sites como o Rotten Tomatoes para ver que a média de avaliação não passa dos 50%. Isso se tornou um motivo de preocupação quando o filme foi escolhido como representante do Canadá para o Oscar. Apesar do mérito ganhado em Cannes, o impacto de uma produção tão polarizadora nos votantes da Academia é imprevisível.  
Marion Cotillard, Xavier Dolan e Nathalie Baye nos bastidores


A proposta do filme é justamente ser algo difícil de assistir. Dolan cumpre isso do início ao fim, sem facilitar em momento algum a posição de desconforto em que coloca a audiência. A história é indigesta e sufocante por si só e o tom intimista dado pelo diretor apenas amplia essas características. Mesmo que É Apenas o Fim do Mundo gere incômodo, colocar sua qualidade cinematográfica em dúvida é completamente injusto.

Aqui no Brasil, o filme estreou no Festival do Rio e chega às salas de cinema no final de novembro. Confira o trailer legendado:

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