Em A Favorita (2018), Yorgos Lanthimos, diretor dos excelentes Dente Canino (2009) e O Lagosta (2015), inaugura uma nova fase ao entregar o filme mais acessível de sua carreira, às custas do abandono de algumas marcas registradas do seu cinema controverso. O que para muitos cineastas representaria uma espécie de submissão criativa, para Lanthimos se torna uma nova faceta de sua maturidade como artista.
Em seu novo longa, o diretor grego explora um bem-vindo contra senso à maioria das convenções presentes no gênero de biografias históricas ao reinventar a história da Duquesa de Marlborough, Sarah Churchill (Rachel Weisz) e seus exercícios de influência na corte como conselheira e amante secreta da Rainha Anne (Olivia Colman). Seu posto privilegiado, no entanto, é ameaçado pela chegada de Abigail (Emma Stone), uma nova criada que logo ganha o afeto da rainha e passa a tirar proveito dessa oportunidade.
Quem mais se beneficia dessa nova abordagem de Lanthimos é sem dúvida, o trio de atrizes principais, que se mostram bastante confortáveis com o "temperamento volátil" do filme, que permeia com frequência e facilidade entre o trágico e o ridículo, sempre pontuado pelo sarcasmo oriundo das interações entre o trio protagonista. Entregando atuações que figuram entre as melhores de suas respectivas carreiras, as atrizes despontam como possíveis favoritas - com o perdão do trocadilho - na vindoura premiação do Oscar.
A estranha tarefa de equilibrar as idiossincrasias pouco palatáveis do cinema de Yorgos Lanthimos com o formato típico de um gênero fílmico mais conservador torna A Favorita um intrigante exercício de linguagem cujo saldo positivo pode sinalizar um novo estilo estético-narrativo para o diretor, ainda que exponha alguns problemas incomuns em sua filmografia, como o ritmo irregular - especialmente no terceiro ato - e um desfecho um tanto previsível.