Conheça o poema que deu origem ao título do filme "Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças"

clementine montada nos ombros de joel em cena do filme brilho eterno de uma mente sem lembraças
Antes de apresentar o poema de Alexander Pope, farei uma rápida apresentação da história que o inspirou.

Os amantes da Idade Média


Pedro Abelardo e Heloísa de Paráclito protagonizaram um célebre romance na França do Século XII. Abelardo era filósofo, teólogo e professor. Um dos maiores pensadores de seu tempo. Heloísa, escritora, erudita, freira e abadessa.

Heloísa, ainda jovem, se destacava por sua inteligência e dom para escrita. Sob o teto e custódia do tio Fulbert, foi aluna de Abelardo. Os dois mantiveram uma relação secreta, devido aos impedimentos das regras sociais na época, até quando ela engravidou. Enviada para a região de Bretanha, para ser seguramente afastada do tio, deu luz ao filho Astrolábio. Abelardo, para se reconciliar com Fulbert, aceitou se casar com a jovem, que pôde então retornar para Paris. A cerimônia ocorreu secretamente, para que sua carreira não fosse arruinada. A reputação de Fulbert, porém, não foi poupada, sendo vítima de difamações e hostilidade. O tio, então, se vingou tornando público o casamento.

Para proteção de Heloísa, a jovem foi refugiada no convento de Argenteuil. Como punição, Abelardo foi castrado em uma invasão noturna a seu quarto. Diz-se sobre mando da família da jovem ou do próprio Fulbert. "Puniram-no por onde pecara, como o teólogo diria mais tarde.". Refugiando-se na Abadia de Saint Denis, tornou-se monge. Quando o convento de Heloísa foi fechado, Abelardo transferiu as freiras para o "Convento do Paráclito", onde ela tornou-se abadessa.

Por muito tempo, não mais se viram, comunicando-se através de correspondências nas quais lembravam os amores vividos, e apoiavam-se mutuamente na manutenção de suas vocações. Parte destas cartas ainda existem. (Saiba mais no livro análise de Étienne Gilson).

Os amantes foram enterrados juntos no Convento do Paráclito (Abelardo em 1142, Heloísa em 1164). Mais de 600 anos mais tarde, durante a Revolução Francesa, o convento foi demolido e os restos mortais transferidos para uma igreja próxima. No início do século XIX, foram transferidos para o hoje mundialmente famoso cemitério "Père Lachaise", em Paris, onde estão enterrados nomes como Balzac, Oscar Wilde, Proust, Modigliani, Allan Kardec, Chopin, Jim Morrison, Édith Piaf, entre outros.

A história dos amantes pode ser vista no filme Em Nome de Deus (Stealing Heaven, 1988), e inspirou gerações de poetas e romancistas, entre eles Alexander Pope e Jean-Jacques Rousseau.


Trecho traduzido de "Eloisa to Abelard" - poema do inglês Alexander Pope


"Eloisa to Abelard" é um poema publicado em 1717 pelo inglês Alexander Pope. Devido sua extensão, foram selecionados fragmentos traduzidos pelo professor Jorge Luis Gutiérrez, na Revista Pandora Brasil. O trecho citado no filme, em especial a linha "Eternal Sunshine of The Spotless Mind", que dá nome a obra de Michael Gondry, está destacado, e pode ser conferido no vídeo ao final da citação.

"Nesta profunda solidão e terrível cela,
Onde a contemplação celestial do pensamento habita,
E sempre reina a meditação melancólica;
Que significa esta agitação nas veias de uma virgem?
Por que meus pensamentos se aventuram além do último retiro?
Por que sente meu coração este amplo e esquecido calor?
Ainda, ainda eu amo! De Abelardo veio,
E Eloisa ainda deve beijar seu nome.

Querido fatal nome! Restos nunca confessados,
Nunca passarão estes lábios no sagrado silêncio selado.
Ocultá-lo, meu coração, dentro desse disfarce fechado,
Quando se funde com Deus, sua falsa idéia amada:
Ó mesmo não o escrevendo, minha mão - o nome aparece
Logo escrito – a purificação acabo com minhas lágrimas!
Em vão a perdida Eloisa chora e reza,
Seu coração ainda manda, e a mão obedece.

Inexoráveis paredes! cuja obscura ronda contém
Arrependidos suspiros, e amarguras voluntárias:
Vós rochas fortes! Que santos joelhos desgastaram;
Vós grutas e cavernas inalcançáveis com horrível espinhas
Santuários! onde as virgens mantiveram seus pálidos olhos,
E a tristeza dos santos, cujas estátuas aprenderam a chorar!
Embora frio como você, imóvel, em silêncio crescente,
Eu ainda não esqueci-me como pedra.

Nem tudo está no céu enquanto Abelardo tem parte,
Ainda a natureza rebelde mantém a metade de meu coração;
Nem a oração nem os jejuns acalmaram seus impulsos persistentes,
Nem as lágrimas, ou a idade, o ensinaram a fluir em vão.

(...)

Como é imensa a felicidade da virgem sem culpa.
Esquecendo o mundo, e pelo mundo sendo esquecida.
Brilho eterno de uma mente sem lembranças!
Cada prece é aceita, e cada desejo realizado;
Trabalho e descanso mantidos em iguais períodos;
Obedientes sonhos dos quais podemos acordar e chorar;
Calmos desejos, afetos sempre furiosos.
Deliciosas lágrimas, e suspiros que bóiam no paraíso.
Graça que brilha a seu arredor com raios serenos.
O murmúrio dos anjos arrulha seus sonhos dourados.
Por sua eterna rosa que floresceu no Éden.
E as asas dos serafins derramam perfumes divinos,
Para ela, o esposo prepara o anel nupcial,
Para ela as brancas virgens cantam a canção da boda,
E ao som das harpas celestiais ela morre
E se desfaz em visões do dia eterno.
(...)"

O poema completo pode ser conferido, em inglês, aqui.

Confira o trecho do filme em que as linhas destacadas são citadas:


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