Bacurau (2019) - Familiaridade e Ineditismo

Bacurau (2019) é o novo filme do aclamado diretor pernambucano Kleber Mendonça Filho, que co-dirige com Juliano Dornelles, designer de produção de O Som Ao Redor (2012) e Aquarius (2016). O filme chega ao circuito brasileiro com grandes expectativas e o aval de prêmios importantes, como o Prêmio do Júri da última edição do Festival de Cannes.

A morte de dona Carmelita, aos 94 anos, é o estopim para uma série de acontecimentos estranhos em Bacurau, um pequeno povoado do sertão brasileiro: os moradores descobrem que a comunidade não consta mais em qualquer mapa, drones passeiam pelos céus e misteriosos estrangeiros chegam à cidade. Porém, quando cadáveres começam a aparecer, a comunidade, liderada por Domingas (Sônia Braga), Acácio (Thomas Aquino), Teresa (Bárbara Colen) e Lunga (Silvero Pereira) chega à conclusão de que estão sendo atacados e se une para identificar e se defender do misterioso inimigo.

Ainda que estabeleça uma evidente ligação temática com os filmes anteriores do diretor, marcados por seus discursos carregados e uma precisão estética e narrativa, Bacurau se diferencia por sua grandiloquente ambição de misturar faroeste e ficção científica, gêneros típicamente percebidos como “estrangeiros” por nosso cinema, com mitologias locais e uma forte crítica política que aproximam o filme de referenciais tipicamente brasileiros. O resultado é uma distopia que, nas suas próprias palavras, está "apenas no começo", mas apresenta uma sintonia inquestionável com o imaginário social brasileiro atual, algo esperado, mas sempre bem-vindo como marca autoral da filmografia de Kleber Mendonça Filho.

Nesse sentido, Bacurau tanto se beneficia, quanto sofre por conta do ineditismo de certos aspectos que explora enquanto linguagem cinematográfica, trazendo os conflitos que permeiam a trama para o universo da sua execução narrativa e tonal, especialmente após a inesperada reviravolta de acontecimentos ao final do seu primeiro ato, que funciona melhor em conceito do que em execução.

O drama intimista sugerido até então é deixado de lado em favor de uma sátira pesada, marcada por uma violência exagerada, porém catártica, e alguns momentos cômicos quase bobos; aspectos estes que por vezes dominam a narrativa do filme em seu detrimento, especialmente quando esta tenta dar conta da narrativa dualista que pouco aprofunda o conflito apresentado para além de metáforas óbvias e um tanto reducionistas.

Com Gal Costa cantando no espaço e seu antagonista (Udo Kier) sendo caçado por um fantasma, Bacurau, é um filme maior do que qualquer defeito de ordem subjetiva, pois é um filme, acima de tudo, necessário. E este rótulo, poucos filmes podem verdadeiramente clamar para si. Inegavelmente irregular, mas divertido e contundente na sua "tese" contra o colonialismo ocidental, é uma obra que que deve abrir portas para que outros cineastas e realizadores aprendam com seus equívocos e se inspirem com originalidade e inegável bravura.

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