Shazam! (2019) - O olhar infantil como super-poder


Com exceção da universalmente aclamada trilogia do Cavaleiro das Trevas, dirigida por Christopher Nolan, as adaptações cinematográficas dos heróis da DC Comics sofrem, em maior ou menor grau, de uma certa dificuldade em acertar o tom das narrativas e personagens que busca adaptar. Nesse sentido, a missão de Shazam! (2019) era familiar. Porém, se contava com uma certa boa-fé do público, oriunda dos recentes sucessos de Mulher Maravilha (2017) e Aquaman (2018), tinha contra si a pouca fama e a mitologia inusitada do seu novo protagonista. Coube ao pouco expressivo David F. Sandberg, diretor até então restrito a filmes de terror, a tarefa de trazer o herói às telas. Poucas vezes o prognóstico desanimador de um filme se provou tão distante do seu resultado de fato. Shazam! é ótimo.

Ao reconhecer a mitologia um tanto boba do seu personagem-título, Sandberg constrói uma narrativa alicerçada nas perspectivas atípicas do órfão malandro Billy Batson (Asher Angel), e seu irmão adotivo Freddy (Jack Dylan Grazer), ambos garotos de de 14 anos. A idade do seus protagonistas faz com que o filme se dirija especialmente a um público mais infantil, suavizando complexidades narrativas e apostando em uma mensagem positiva bastante clara.

Após receber poderes de um mago moribundo (Djimon Hounsou), Billy pode se transformar em um super-herói com corpo de adulto apenas dizendo uma palavra mágica: Shazam! Seu poderoso alter-ego é interpretado por Zachary Levi, que empresta todo seu carisma à figura deste ridículo (no melhor sentido) super-homem, cujo maior desafio é, justamente, ser uma criança. Utilizando poderes e atitudes heróicas como uma metáfora para o amadurecimento, o roteiro de Henry Gayden e Darren Lemke não esconde seu referencial inspirador nos saudosos filmes coming of age oitentistas - especialmente Quero ser Grande (1988) - nas peripécias do herói e seu fiel companheiro, que fazem o que qualquer criança faria com superpoderes: divertir-se com eles, usando-os para se exibir na internet, fugir da escola e até ganhar uns trocados.

O chamado à maturidade, no entanto, vem com a chegada do maligno Dr. Thaddeus Sivana (Mark Strong), que controla representações monstruosas dos Sete Pecados Capitais. O inevitáveis confrontos são envoltos em uma bem-vinda ingenuidade que nunca perde de vista a intenção de tornar acessível aquilo que se vê - até mesmo no sentido literal, com a fotografia limpa e sem floreios de Maxime Alexandre. Não há grandes explicações para a mitologia do herói, porém a simplicidade do filme não deve ser confundida com falta de conteúdo. Há, no centro de tudo, uma bem conduzida e singela jornada de autodescoberta e entendimento de mundo.

Shazam! confirma os acertos do novo rumo da DC - o investimento em personagens, ideias e linguagens mais plurais, com a pressa em aplicar a hiper utilizada fórmula do “universo compartilhado” dando lugar à preocupação em contar boas histórias, sejam elas quais e como forem.

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