Uma juventude perdida e efervescente: "Mid90s" é sobre Ser e Pentencer

Uma das necessidades básicas da humanidade é o sentimento de pertencimento. Precisamos de quem nos acolha, nos entenda e nos aceite exatamente como somos. Na infância ou adolescência, é quando esse sentimento emerge de maneira mais profunda. É a fase onde somos capazes de cometer as maiores irresponsabilidades em função de agradar os amigos ou uma paquera. Em seu primeiro filme como diretor, Jonah Hill nos traz essa reflexão sob a perspectiva de uma criança (Sunny Suljic), Stevie, que cresce em meio a uma gangue de skate. Mid90s é um belo coming of age, cativante e que explora uma gama incrível de sentimentos do espectador, mas ainda assim enfrenta problemas de concepção.
   
Mid90s não se escora em qualquer nostalgia para contar uma história honesta sobre como a juventude pode ser inquieta entre as festas e decepções. O roteiro e a cinematografia do filme captam muito bem um espírito noventista de MTV, mostrando uma juventude enérgica, porém desnorteada e sem qualquer vínculo com a realidade. Crescer naqueles anos era também dedicar parte do tempo aos sonhos (de ser rockstar, jogador de futebol, estrela do cinema...) que certamente iriam se concretizar.

Ray (Na-Kel Smith) é o personagem mais interessante da história, um skatista amador que vislumbra uma carreira no esporte e, destoando de seus companheiros, enxerga a vida de maneira responsável. Ele age como a consciência de Stevie, aconselhando o pequeno amigo que, normalmente, se sente injustiçado e tenta a todo momento se auto afirmar pela rebeldia. Ray e Stevie desenvolvem uma relação interessante contrapondo especialmente dois de seus parceiros: Fuckshit (Olan Prenatt) e Ruben (Gio Galicia). Há também Fourth Grade (Ryder McLaughlin), o mais calado e alheio deles, e o irmão de Stevie, Ian, vivido por Lucas Hedges.

Mesmo que a tendência a associação e agrupamento seja um comportamento comum ao longo de toda a vida, é na juventude que isso exerce um papel fundamental na construção da imagem do indivíduo. Para viver a adolescência, o jovem confronta sua família, desafia autoridades e pinta o que for necessário em busca de reconhecimento e aprovação social. É nessa transição de fases que começamos a experimentar as alegrias e dores que estão por vir. Aos olhares dos personagens de Mid90s, eles estão vivendo o grande momento de suas vidas – e o que eles têm para eles, são uns aos outros. Contando sua história, Jonah Hill encarna o machismo tóxico em Ruben; em Fuckshit, há a irresponsabilidade mais autodestrutiva de todas; Ray tem uma visão de mundo séria e centrada, sabe a hora de brincar e a de falar sério; Fourth Grade sabe de suas limitações, mas vive a paixão pelas filmagens e se dedica a ela; Stevie só quer ser amigo dessas pessoas. Entre os passeios de skate, batidas policiais e festas com as garotas, eles fazem escolhas, e todas elas trazem consequências.

É verdade que Mid90s não é bem o melhor filme que poderia ser, mas é bem estruturado e em seus pouco menos de 90 minutos explora bem as vontades e incertezas que até hoje vivem intimamente com quem passou por aqueles anos. É agridoce, tal qual sua proposta. Como obra, havia mais o que se desenrolar, a execução de ar documental não é tão bem sucedida e presta um serviço banal ao tratar do modo como Stevie se sente. Isso empobrece o que o filme tem de melhor – que são os laços da juventude com a inocência. Todavia, seus pontos favoráveis são maiores que isso. Jonah Hill soube trabalhar com competência os ares da vida antes da internet e desenvolver uma história bem resolvida sobre o entendimento do adolescente para sua (ir)responsabilidade com vida e as pessoas ao seu redor.

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