Em O Primeiro Homem (2018), Damien Chazelle consolida sua maturidade e se confirma como um dos diretores mais promissores da atual geração ao por realizar uma obra com escolhas estético-narrativas bastante distantes de sua aparente zona de conforto. Na contramão do excelente Whiplash - Em Busca da Perfeição (2014) e La La Land: Cantando Estações (2016), Chazelle deixa de lado as intensas emoções e a fantasia ao optar por construir um drama sutil, baseado em fatos reais e centrado na jornada de Neil Armstrong (Ryan Gosling), o astronauta que se tornou o primeiro homem a pisar na Lua.
Apesar da aparente não-familiaridade de Chazelle com o material escolhido - baseado no livro homônimo escrito por James R. Hansen - é perceptível que um dos elementos mais importantes para o sucesso da obra foi o retorno de diversas parcerias do diretor, a começar por Ryan Gosling, de que quem Chazelle explora conscientemente o arquétipo de “homem circunspecto” que o tipificou e alçou ao sucesso com Drive (2011).
Um dos aspectos mais interessantes do filme é a forma como ele dimensiona visualmente os dramas pessoais de Armstrong frente a sua grandiosa missão de levar os Estados Unidos à vitória na Corrida Espacial contra a URSS em plena Guerra Fria. Linus Sandgren, em em seu segundo trabalho como diretor de fotografia de Chazelle, explora brilhantemente o senso de escala do espectador, frequentemente colocando elementos como o olho humano e a Lua como objetos de igual tamanho e importância imagética, aproximando e harmonizando duas vertentes narrativas supostamente irreconciliáveis.
A harmonização de seus elementos é uma característica notável ao longo do filme, no qual a montagem de Tom Cross, em sua terceira colaboração com Chazelle, cadencia com grande habilidade o roteiro de Josh Singer, vencedor do Oscar por Spotlight - Segredos Revelados (2015) ao alternar a rotina familiar de Armstrong e sua esposa Janet (Claire Foy) com o desenvolvimento da missão espacial e interligando seus percalços de maneira bastante orgânica, utilizando discretamente alguns clichês dramáticos para aproximar o espectador da trama e seu protagonista estoico.
Imersão, aliás, é a palavra de ordem do filme, que mesmo em meio à uma narrativa com ares grandiosos, nunca se perde do ponto de vista humano de Armstrong, convergindo todo seu esforço estético para representar a trama sensorialmente através do seu contato com o que orbita à sua volta, sejam pessoas ou grandes corpos celestes. O que afeta Armstrong afeta o espectador, desde a claustrofobia e a solidão das naves ou as forças naturais que as castigam, construídas de forma impecável pela direção de arte, a fotografia e especialmente, o som - este, inclusive, deve despontar como um favorito das categoria relativas nas vindouras premiações.
O Primeiro Homem, assim como a história que narra, triunfa ao fazer escolhas corajosas, resultando em uma obra cinematográfica que renova a desgastada linguagem dos filmes biográficos ao recontar a árdua caminhada que levou Neil Armstrong a dar o pequeno passo que o eternizou na história e, agora, no cinema.