O que Lady Bird tem de especial?

Quando Lady Bird quebrou o recorde de melhor avaliação na história do site Rotten Tomatoes, a notícia foi recebida com surpresa. Todo ano o cinema norte-americano se enche de dramas adolescentes sobre os conflitos de se tornar, supostamente, um adulto - os famosos filmes coming of age. Então, o que Lady Bird teria de tão especial?

Christine McPherson (ou “Lady Bird”, como prefere ser chamada) luta para se libertar de todas as amarras criadas por sua vida no interior, que vão desde seu próprio nome até sua mãe. Em meio à paranoia e à crise identitária estadunidense, que sucedem os atentados de 11 de setembro, Lady Bird (Saoirse Ronan) tem que enfrentar a realidade de seus sonhos num ambiente “do lado errado dos trilhos do trem”. A história, em sua base, parece similar com muitas outras existentes por aí, mas a produção independente não teria explodido sem ter trazido elementos novos para a fórmula - e a grande responsável por isso é a roteirista e diretora Greta Gerwig.

Saoirse Ronan e Greta Gerwig nos bastidores do filme.
Há tempos, Gerwig vem chamando a atenção de um público limitado de cinéfilos, universitários e frequentadores de festivais. Ela despontou em 2007, co-escrevendo “Hannah Sobe as Escadas” com Joe Swanberg. Desde então estrelou e co-escreveu dois sucessos do cinema independente - “Frances Ha” (2012) e “Mistress America” (2015) - além de ter tido pequenas participações em dois indicados ao Oscar - “Jackie” (Pablo Larrain, 2016) e “Mulheres do Século 20” (Mike Mills, 2016). Essa é a estreia dela como diretora e também a primeira vez em que carrega sozinha os créditos pelo roteiro! 

Com uma pequena raiz autobiográfica, Greta Gerwig constrói uma história que soa muito familiar, mas que é única e diferente. Pelos corredores de uma escola católica regida por freiras, nós vemos diversos rótulos já desgastados: a garota popular, o anarquista 'diferentão', o professor galã. Gerwig cria e desenvolve suas personagens sem julgamentos. Cada indivíduo que circunda a protagonista recebe uma sub-narrativa própria e complexa que, mesmo não aparecendo em tela, impede que se tornem apenas estereótipos unilaterais.

Gerwig sempre achou a dinâmica de amor e ódio entre mulheres interessante.
Apesar de ser conhecida por levar os conflitos da Geração Y para as telonas, Lady Bird é tanto sobre a protagonista, quanto sobre sua mãe, Marion, interpretada por Laurie Metcalf. A deteorização do laço mãe e filha amplia os conflitos entre essas mulheres de personalidades fortes. Com performances fantásticas, as atrizes vivem uma dinâmica de grande co-dependência, mas também de quase completo ressentimento. Acima de qualquer outra coisa, Ronan e Metcalf são as responsáveis por levarem a narrativa de um extremo (drama) ao outro (comédia) em questão de minutos.

Beanie Feldstein, irmã do humorista Jonah Hill, também é um dos destaques do filme.
O resto do elenco não fica para trás, contanto com nomes como o veterano Tracy Letts, ganhador do Prêmio Pulitzer pela peça Álbum de Família; Lucas Hedges, indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante pelo filme Manchester à Beira-Mar; e Timothée Chalamet, a grande revelação deste ano, que também é o protagonista do principal rival de Gerwig na corrida para o Oscar - o romance Me Chame Pelo Seu Nome. Também destacam-se as performances de Beanie Feldstein e Marielle Scott, em grande parte incumbidas pelos alívios cômicos da trama nos papéis de melhor amiga e namorada do irmão da protagonista.

A produção cumpre seu papel ao lidar com as temáticas propostas de uma forma sincera. O enredo não conta com grandes exageros dramáticos ou com o respaldo financeiro comum aos personagens de outros dramas adolescentes. Essa é uma história que você provavelmente já viveu e que, com certeza, já viu ser narrada diversas vezes. O grande diferencial está na ótica sob a qual ela é contada: exuberante, mas sem arrogância. É por isso que Lady Bird é um pássaro raro.

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