O estilo neo-noir em Baby Driver

Lançado em julho deste ano no Brasil, Baby Driver – ou Em Ritmo de Fuga – foi sucesso de crítica e se tornou a melhor bilheteria de estreia do diretor Edgar Wright, já conhecido por ter sido o roteirista de Homem Formiga (2015) e diretor em Scott Pilgrim Contra o Mundo (2010) e Trilogia do Sangue e Sorvete (2004-13).

O longa conta a trajetória de Baby (Ansel Elgort), um jovem e habilidoso piloto de fuga que trabalha há anos para o mafioso Doc (Kevin Spacey), mas planeja largar o emprego, ainda mais depois que conhece a garota dos seus sonhos, Debora (Lily James). A premissa da história é simples e ela seguiria aquele conhecido caminho trivial dos filmes de ação não fosse a direção de Wright, o uso brilhante da trilha sonora e a retomada bem-sucedida de elementos que trazem à tela um dos mais influentes subgêneros dos filmes policiais, o neo-noir. 

Humphrey Bogart e Mary Astor em 'O Falcão Maltês', de 1941. Bogart é considerado ator ícone do Cinema Noir
O estilo provém do Cinema Noir, que nasceu em meados nos anos 1940, quando Hollywood importou particularidades dos filmes expressionistas, movimento cinematográfico alemão (já falamos sobre o gênero aqui), que tinham como características marcantes uma baixa iluminação e o jogo de luz e sombra que ajudava a criar uma atmosfera pessimista e sombria. 

A partir de tais particularidades, o gênero noir tratava de assuntos como crime e corrupção, em que os personagens se viam inseridos num cenário urbano ameaçador e em uma sociedade adversa aos valores morais. A corrente cinematográfica abordava também o obscuro comportamento humano, onde o protagonista era sempre um anti-herói desiludido, cínico e pessimista, mas que conseguia resolver os casos mercenários em que se envolvia. O crime a ser desvendado muitas vezes o levava a conhecer algum desses protótipos: uma femme fatale, a icônica mulher sedutora, individualista e imoral ou a mocinha, encantadora e atenciosa. 

Jack Nicholson em 'Chinatown', de Roman Polanski
O gênero foi perdendo força até o final de 1957, o que despertou a partir daí diretores propostos a criarem uma “releitura” dos elementos mais usados. Perdurando ao longo das décadas seguintes, o estilo ganhou o nome de neo-noir, onde o antigo molde do movimento foi, em partes, atualizado pela tecnologia dos avanços cinematográficos, temas e conteúdos recentes acompanhando os novos contextos históricos.

Esse é o caso de Chinatown (Polanski, 1974), Blade Runner - O Caçador de Androides (Ridley Scott, 1982), Cães de Aluguel (Tarantino, 1992), Sin City (2005), Drive (Nicolas Winding, 2011), entre tantos outros. A máfia se mantém presente junto com um clima hostil e personagens céticos. 

Ansel Elgort, Baby, dirige guiado pelas batidas das músicas de sua playlist
Baby Driver segue essa linha, com um roteiro inteligente, diálogos rápidos e sarcásticos e flashbacks. O filme entra de cabeça no universo neo-noir e utiliza seus elementos de forma brilhante.

Baby é o anti-herói perfeito: misterioso, solitário, introvertido e talentoso em seus serviços, ele é envolvido da cabeça aos pés no mundo do crime em meio a “vilões”, mas se mantém honesto na medida do possível (como devolver a bolsa da senhora a qual ele rouba o carro, por exemplo) e tem consciência sobre seus princípios. 

Debora, junto com Darling – personagem de Eiza González - representam com êxito as mulheres do cinema noir. Enquanto uma é a ideal femme fatale, atraente e disposta a qualquer coisa para sair por cima, Debora é dócil e enigmática, além de ser o principal estímulo à redenção de Baby. 

O roteirista e diretor Edgar Wright teve a ideia para o roteiro do filme em 1994
Para não sumir na história, os gêneros estão sempre se reinventando através do olhar dos diretores. Por isso é mais comum do que imaginamos conseguir identificar componentes de relevância em filmes de um movimento cinematográfico de 1940 sendo reciclados em filmes atuais.

Baby Driver é recheado de personagens ásperos e cativantes, situações caóticas e reviravoltas surpreendentes. Com um adequado uso do humor, o longa resgata o melhor que há em filmes de perseguição, lançando novos ingredientes para que os seguidores do gênero continuem criando em cima de um movimento tão sólido e importante para o cinema.

E você, notou esses elementos e proximidade?

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