O legado do Expressionismo Alemão

Em um cenário ainda devastado pelo Pós-Primeira Guerra, nasce na Alemanha o chamado Expressionismo, corrente que, além da sétima arte, atingiu a arquitetura, a música, o teatro, a literatura e a pintura. 

Com um estilo próprio – a nível de ser considerado uma vanguarda para a época -, o Expressionismo lançava narrativas sobre uma ótica diferenciada, a qual serviria de inspiração para filmes noir, fantasias de terror e outros diversos gêneros que sofrem grande influência por essa estética. O maior objetivo dos diretores que aderiram ao movimento era retratar a loucura e os aspectos reprimidos dos seres humanos.
O personagem Cesare (Gabinete do Dr. Caligari) e Edward Mãos de Tesoura, de Burton
Considerado precursor dessa atmosfera histórica, O Gabinete do Dr. Caligari (1919), de Robert Wiene, apresentava elementos chave para os próximos filmes a seguirem o mesmo estilo. O longa conta a história do sonâmbulo Cesare, que fora hipnotizado pelo Doutor Caligari, e sendo vigiado pelo mesmo, Cesare realiza previsões que acabam por se concretizar. 

 A distorção, o jogo com as sombras acentuado pela maquiagem e o figurino sombrio do protagonista Cesare – interpretado por Conrad Veidt – interferiram positivamente para a criação visual do personagem Edward Mãos de Tesoura, de Tim Burton. 

Era o auge do cinema mudo, os atores eram impossibilitados de falar, portanto os gestos em cena se mostravam intensos e as expressões faciais bem determinadas e exóticas. Os sentimentos eram retratados com profundidade, o que depois se alterou com o advento do cinema sonoro, e então, a figuração tendia a ficar mais naturalista. 
O Homem que Ri (1928) e o Coringa de Esquadrão Suicida (2016) 
Mas não foi isso que impediu os diretores modernos a retomarem esses detalhes. No filme do diretor Paul Leni, O Homem que Ri (1928), Conrad Veidt – ator ícone do Expressionismo -, dá vida ao herdeiro Gwynplaine, filho de um homem que teria traído o rei. Pai e filho são punidos, mas como castigo para Gwynplaine ainda garoto, o rei ordena a solicitação de um cirurgião para desfigurar lhe o rosto, marcando-o com um eterno riso forçado e, sem muita opção, ele se torna palhaço, sendo a atração do circo. Qualquer semelhança com o Coringa não é mera coincidência.

O personagem de Conrad Veidt serve até hoje como inspiração, mesmo para a representação de um Coringa mais contemporâneo. O filme O Homem que Ri foi listado efetivamente como estímulo para a construção do inimigo do Batman. 
Maschinenmensch de 1927, em comparação ao C3PO, em 1977 
O Expressionismo lançava consigo inovadoras histórias, mensagens e personagens com o psicológico pouco explorado para a época. Viam-se vampiros, monstros, vilões de aparências singulares e máquinas. Esse é o caso de Metrópolis (1927), de Fritz Lang, ambientado em 2026. Seu antagonista é o Homem-Máquina, criado por um cientista que afirma que os operários não serão mais necessários, pois existirão robôs tão perfeitos que as pessoas não saberão diferenciá-los dos seres humanos.

Em Metrópolis, o futuro é distópico e totalmente desigual, os operários vivem em baixo da terra, na Cidade dos Trabalhadores, em um regime escravocrata. Enquanto isso, os ricos ficam na superfície. A iluminação de alto contraste evidencia o mal-estar da população segregada.

O filme é até hoje um marco no Cinema Expressionista e foi considerado o longa metragem mais caro de sua época. Maschinenmensch é a robô da história, nomeada de Maria. O design serviu de conceito para a criação do C3PO - famoso droide de Star Wars -, e não são só os robôs que apresentam semelhança. A própria temática dos filmes na visão futurista retrata de forma ímpar a desigualdade social.
Cenografia futurista em Metrópolis (1927) e  Blade Runner (1982)
Os cenários dos filmes Expressionistas eram estilizados, distorcidos e cheios de artificialidade. É por esse pano de fundo que percebemos a oposição do bem contra o mal: a iluminação claro escuro remete à luz e às trevas, os ângulos oblíquos distorcem os vilões e centralizam o protagonista. Cria-se assim um tempo-espaço que ajuda na compreensão do espectador, e todos os detalhes se fazem importantes. Tim Burton segue essa ideia em Batman O Retorno (1992): sua representação de Gotham City é escura, gótica e se encontra constantemente em um clima fúnebre.

A cenografia futurista de Blade Runner, o Caçador de Androides (1982) também foi criada a partir da atmosfera de Metrópolis. A Los Angeles retratada no longa é poluída visualmente, o que ajuda a complementar o conceito fílmico.

Mas Tim Burton segue bebendo insaciavelmente da fonte do Expressionismo. Seu estilo cinematográfico e caracterização dos personagens é totalmente voltado à natureza do movimento alemão: o vampiro protagonista de Sombras da Noite (2012), Barnabas Collins – interpretado por Johnny Depp -, tem particularidades iguais ao Nosferatu (1922). Pinguim, de Batman: O Retorno (1992), é representado a partir de figurino, maquiagem carregada e expressões artísticas semelhantes aos do Dr. Caligari
Dr. Caligari (Gabinete do Dr. Caligari) e Danny DeVito como o vilão Pinguim em Batman: O Retorno 
Com a ascensão definitiva de Hitler ao poder, o Expressionismo foi perdendo força. Muitos cineastas não puderam mais exercer sua profissão por serem de descendência ou origem judaica. Alguns profissionais emigraram para os Estados Unidos, e levaram junto para Hollywood suas bagagens de experiência e conhecimento.

Diversos elementos do Expressionismo Alemão também aparecerem em filmes do Alfred Hitchcock, Orson Welles e Billy Wilder que, à sua maneira, construíram suspenses de apelo estético equivalente e retratos críticos sobre o lado primitivo dos indivíduos. A corrente cinematográfica deixou uma grande herança para diretores que homenageiam ou constroem seus estilos com base nesse movimento, e é por reconhecer as semelhanças em muitos filmes do cinema atual que comprovamos com sucesso: o Expressionismo foi imortalizado. 
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