Qual é a diferença entre terror e suspense?

Terror, horror e suspense. São muitos os nomes usados para denominar os filmes cujo intuito é criar alguma espécie de antecipação no público que logo será resolvida, seja com um susto ou não. Todos esses subgêneros, supostamente diferentes, em sua essência trabalham com uma mesma emoção: o medo. Essa discussão para dividir o terror em diferentes estilos já acontece, literalmente, há séculos, e a gente trouxe alguns dos principais argumentos para você refletir sobre a diferença entre eles. 

Para começar a entender essa diferença no cinema, temos que voltar na origem do medo como forma de consumo popular: a literatura gótica do século 18. A primeira pessoa a fazer uma distinção desses gêneros foi a escritora inglesa Ann Radcliffe (1764-1823), que separou o terror do horror. Para ela, o terror vem antes da experiência assustadora, estando ligado à uma apreensão e à uma ameaça. Já o horror é o que vem depois, sendo o choque e, muitas vezes, a repulsa. Uma comparação famosa é do acadêmico norte-americano Devandra Varma: o terror é o “cheiro da morte iminente” enquanto o horror é “tropeçar num cadáver”.
Cena do filme "Freddy vs. Jason" (2003) que juntou duas das franquias mais bem sucedidas de horror
No cinema, podemos caracterizar como horror os filmes slasher ou splatter. Apesar de possuírem momentos em que tentam assustar a audiência, o foco principal desses filmes é o gore - expressão em inglês para “sangue coagulado” - mostrando cenas de violência explícita e com sangue em abundância. Ou seja, quanto mais detalhes de uma morte em cena, melhor. Exemplos deles são as famosas franquias Sexta-Feira 13 (1980), A Hora do Pesadelo (1984) e Jogos Mortais (2005). Alguns clássicos do cinema também trazem fortes influências desse subgênero, como é o caso de Psicose (1960) e A Noite dos Mortos-Vivos (1968).

Já entre o terror e o suspense as coisas ficam um pouco mais embaçadas. No senso comum, o termo terror é usado para se referir aos filmes cuja narrativa apresenta um elemento sobrenatural. Enquanto o horror é uma transgressão das normas sociais, ao retratar serial killers e cenas gráficas com o intuito de causar repulsa, o terror é uma transgressão das regras naturais ao apresentar monstros, fantasmas e criaturas místicas. No entanto, esse argumento, apesar de plausível, pode se esgotar rapidamente. Se voltarmos na definição de Ann Radcliffe, o suspense, ou seja, a antecipação por algo desconhecido, é parte indissociável do terror. 
"O Sexto Sentido" (1999) é considerado o filme de suspense com maior número de indicações ao Oscar 
Então por que há uma diferenciação? Porque o mercado cinematográfico precisava de uma! Desde seu surgimento literário até o cinema, o gênero de terror sempre foi algo de baixa estima cultural, poucas vezes chegando ao status de “literatura” e muito menos ao de “arte”. Além disso, por trabalhar com o medo e com excessos de violência, misticismo e até de sexo, o público do terror acaba se tornando um tanto restrito. O suspense então surgiu para designar aquelas produções que trabalham com o medo, mas que não se encaixam no senso comum do que é um filme de terror. Desta forma, filmes como “O Silêncio dos Inocentes” (1991) e “O Sexto Sentido” (1999) se alçaram a um sucesso quase inédito, chegando a lugares inesperados como o Oscar.

Ainda assim, pode-se argumentar que terror e suspense se constroem de forma diferentes. Alfred Hitchcock definia o suspense como a suspensão da descrença, ou seja, a ausência do susto como principal reviravolta da narrativa - o que é uma característica comum dos filmes de terror. Para explicar isso, ele usava seu famoso exemplo da bomba: duas pessoas estão conversando, há uma bomba debaixo da mesa que não aparece em cena. Ela de repente explode. O público, é claro, vai se surpreender com a explosão, no entanto, antes dela, o que estava em tela era uma cena normal. A reação da audiência seria completamente diferente se, por exemplo, houvesse um plano de alguém implantando o explosivo lá. O espectador estaria ciente da presença da bomba durante toda a cena, estando investido emocionalmente nela. Para o diretor, isso é essencial na diferenciação entre susto e suspense, pois essa construção troca "quinze segundos de surpresa" na hora da explosão, por "quinze minutos de suspense".
"A Bruxa" (2016) é um exemplo de filme lucrativo que fugiu dos moldes do terror comercial
O medo é uma matéria-prima subjetiva e está em constante modificação, assim como o cinema. A gente já falou aqui como filmes independentes de terror estão quebrando cada vez mais o molde do que é considerado comercial, abandonando características que são levadas em conta na hora de fazer essa diferenciação. Ou seja, a própria Hollywood, que criou essas inúmeras categorias, aos poucos está embaralhando ainda mais a diferença entre elas e, até mesmo, criando novas - como é o caso do terror psicológico. A verdade é que, na prática, esses gêneros e subgêneros não se anulam, e um mesmo filme pode transitar entre os diferentes estilos durante seu enredo.
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