Para começar a entender essa diferença no cinema, temos que voltar na origem do medo como forma de consumo popular: a literatura gótica do século 18. A primeira pessoa a fazer uma distinção desses gêneros foi a escritora inglesa Ann Radcliffe (1764-1823), que separou o terror do horror. Para ela, o terror vem antes da experiência assustadora, estando ligado à uma apreensão e à uma ameaça. Já o horror é o que vem depois, sendo o choque e, muitas vezes, a repulsa. Uma comparação famosa é do acadêmico norte-americano Devandra Varma: o terror é o “cheiro da morte iminente” enquanto o horror é “tropeçar num cadáver”.
Cena do filme "Freddy vs. Jason" (2003) que juntou duas das franquias mais bem sucedidas de horror |
Já entre o terror e o suspense as coisas ficam um pouco mais embaçadas. No senso comum, o termo terror é usado para se referir aos filmes cuja narrativa apresenta um elemento sobrenatural. Enquanto o horror é uma transgressão das normas sociais, ao retratar serial killers e cenas gráficas com o intuito de causar repulsa, o terror é uma transgressão das regras naturais ao apresentar monstros, fantasmas e criaturas místicas. No entanto, esse argumento, apesar de plausível, pode se esgotar rapidamente. Se voltarmos na definição de Ann Radcliffe, o suspense, ou seja, a antecipação por algo desconhecido, é parte indissociável do terror.
"O Sexto Sentido" (1999) é considerado o filme de suspense com maior número de indicações ao Oscar |
Ainda assim, pode-se argumentar que terror e suspense se constroem de forma diferentes. Alfred Hitchcock definia o suspense como a suspensão da descrença, ou seja, a ausência do susto como principal reviravolta da narrativa - o que é uma característica comum dos filmes de terror. Para explicar isso, ele usava seu famoso exemplo da bomba: duas pessoas estão conversando, há uma bomba debaixo da mesa que não aparece em cena. Ela de repente explode. O público, é claro, vai se surpreender com a explosão, no entanto, antes dela, o que estava em tela era uma cena normal. A reação da audiência seria completamente diferente se, por exemplo, houvesse um plano de alguém implantando o explosivo lá. O espectador estaria ciente da presença da bomba durante toda a cena, estando investido emocionalmente nela. Para o diretor, isso é essencial na diferenciação entre susto e suspense, pois essa construção troca "quinze segundos de surpresa" na hora da explosão, por "quinze minutos de suspense".
"A Bruxa" (2016) é um exemplo de filme lucrativo que fugiu dos moldes do terror comercial |