Participantes do Primeiro Plano dão dicas para quem quer investir na carreira cinematográfica


Com salas lotadas e público diversificado, a 15ª Edição do Primeiro Plano tem se firmado como um espaço de visibilidade para as produções audiovisuais não só da cidade, mas também de todo o Brasil. Profissionais de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília marcaram presença no quinto dia do evento e conversaram com a 365 Filmes sobre o cenário do cinema brasileiro e alternativas para a produção independente no país.

Por meio do Catarse, Gabriel Alvim, diretor e roteirista do curta “Segundo o Sexo”, conseguiu financiamento para a produção do filme. Gabriel é formado em Direito, e foi prestando consultoria jurídica para amigos que trabalham com cinema que despertou interesse pela área. “Segundo o Sexo” é sua primeira produção e teve sua estreia no festival ontem, pela Mostra Competitiva Mercocidades. Para o diretor, ainda há grande dificuldade em ganhar financiamento no país, mas com esforço, é possível conseguir outros tipos de apoio. “Dependendo da estratégia que você vai construindo para fazer seu filme, você consegue apoio trabalhando duro. O dinheiro é algo sempre mais difícil. O meu filme eu fiz pelo Catarse, ligando para as pessoas ou conversando pessoalmente. No final das contas, o dinheiro em espécie que você tem, pelo menos no meu caso, é muito menor considerando todos os apoios e contribuições das pessoas.”


Segundo Gabriel, iniciativas como a Spcine, uma empresa pública de cinema e audiovisual de São Paulo, têm sido fundamentais para auxiliar a produção independente no Brasil. “Nos últimos anos, houve um crescimento em relação à política pública voltada para o cinema. Isso aconteceu também na esfera federal, com a lei de ‘Cota de Telas’, que estabelece uma necessidade do produto brasileiro estar nas telas dialogando com o próprio público brasileiro”, diz Gabriel. “Eu sou bastante otimista com a produção brasileira e acho que o público vai se acostumar cada vez mais, e acho que a partir disso, o desenvolvimento dessa identidade cultural brasileira ganha bastante”.

Cena do curta "Não é Pressa, é Saudade", de Camilla Shinoda

Em Brasília, as produções dependem também de editais e projetos como o Fundo de Apoio à Cultura (FAC-DF), segundo Camilla Shinoda, diretora de “Não é Pressa, é Saudade”, também exibido ontem na Mostra Competitiva Mercocidades. A produção do filme contou com o apoio da FAC-DF, mas, por se enquadrar na categoria de iniciante, recebeu um valor menor para financiamento. O curta foi viável com o apoio dos profissionais que “compraram” o projeto. 

Mesmo que o financiamento seja pouco, a dica de Camilla é aproveitar oportunidades da fase atual. “Acho que estamos em um momento de produção muito interessante. O meu filme tem essa linguagem híbrida, que mistura documentário e ficção, e acho que isso tem sido uma cena crescente no cinema brasileiro. Acredito que o cinema brasileiro está em um bom momento, e acho que o público tem recebido isso, aceitado cada vez melhor, tem se aberto muito para novas linguagens, novos experimentos e novos tipos de história”, diz Camilla.

O curta-metragem "Nó", dirigido por Pedro Gui

Para Pedro Gui, diretor de , que foi exibido ontem pela Mostra Competitiva Regional, a criatividade e persistência são fundamentais para quem quer dar o primeiro passo na carreira cinematográfica. “Estamos vivendo hoje a era de ouro do cinema. Hoje em dia, as câmeras não deixam a desejar em nada, você consegue fazer um trabalho muito bom com equipamentos mais simples. Acho que a criatividade está se sobrepondo à técnica”, explica. “A minha dica é entender a área de execução que você pretende seguir. No cinema, nós temos 50 ou até mais funções, então você tem que descobrir o que gosta de fazer, e fazer muito até o ponto de que cada vez que você erra, está repaginando e fazendo melhor, até o momento que você de fato consiga se expressar cinematograficamente”.


Cinema em Juiz de Fora (MG)


Bastidores do curta "Aqueles Cinco Segundos", premiado no Festival de Gramado. Créditos: Diego Zanotti

Uma das principais formas de incentivo em Juiz de Fora é a Lei Murilo Mendes, que está em vigor desde 1995. O projeto contemplou, por exemplo, o curta “Aqueles Cinco Segundos”, premiado na 44ª edição do Festival de Cinema de Gramado, com os Kikitos de melhor diretor para Felipe Saleme e de melhor atriz para Luciana Paes. Segundo Felipe, a Lei Murilo Mendes, por ser municipal, desperta admiração entre outros profissionais. “No festival em Gramado, quando me perguntaram como o filme foi feito, eu contei que era uma lei municipal, e eles ‘cresciam os olhos’, porque é uma coisa que não tem em todo lugar. Essa iniciativa ininterrupta é fundamental, principalmente para quem está começando”.

Ainda de acordo com Felipe, o Festival Primeiro Plano também serve de estímulo para iniciantes. “É a prova de que santo de casa faz milagre. Juiz de Fora foi a cidade que mais representou o cinema brasileiro em Tiradentes esse ano, então alguma coisa está acontecendo aqui”, conta. “É muito legal você perceber essa coisa de, ao invés de sair ou para fazer ou para ver, traz gente para fazer aqui em Juiz de Fora. A Lei Murilo Mendes também faz muito isso, já que uma das bases dela é que a produção seja local. Esse tipo de coisa é importantíssimo”, afirma Felipe.

Para Nilson Alvarenga, professor da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e um dos organizadores do Primeiro Plano, a Lei Murilo Mendes é fundamental, mas ainda há muito a se fazer para melhorar o incentivo às produções audiovisuais na cidade. “Sem a Lei Murilo Mendes, muitos dos curtas-metragens e outros materiais que foram produzidos aqui na cidade não teriam sido feitos. Por outro lado, o desafio é pensar em novos mecanismos e formas de incentivo. Sobretudo, de estimular as empresas a investir na cultura. Os empresários de Juiz de Fora têm pouca tradição de investir na cultura”, explica Nilson.

Para o organizador, o Festival Primeiro Plano vem como uma oportunidade de trazer reconhecimento para as produções locais. “O Festival sempre é visto pela gente que faz parte da organização como um espaço de visibilidade para os filmes e de debate, de discussão, de encontro. São lugares afetivos, onde seu filme é exibido, depois você está conversando sobre ele com outras pessoas que também estão produzindo. É um espaço de diversão e de pensamento sobre o cinema”.

Para quem quer se lançar na carreira cinematográfica, Nilson aconselha apostar em um diferencial: linguagem: “Quando não tem condições financeiras, ou de entrar em um edital, o jeito é investir em linguagem. Isso é possível fazer sem recurso. Fazer pequenas produções mesmo, atingindo um pouco a linguagem cinematográfica, e ideias que vão surgindo desse desenvolvimento de linguagem, que aí sim você consegue fazer bons projetos. Fazendo bons projetos, você vai conseguir financiamento e implementar seu filme”, orienta. “É isso que diferencia produções. Às vezes você vê produções muito bem intencionadas, mas que pecam em termos de qualidade da linguagem e de expressar aquilo que quer”, finaliza.

O Primeiro Plano continua nesta sexta-feira, 02, com as mostras competitivas Regional e Mercocidades, além da estreia do longa metragem “De longe te observo”, de Lorenzo Vigas. Confira a programação completa pelo link.

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