10 filmes brasileiros que farão você (re)pensar sobre a vida


Muitas vezes a primeira impressão das pessoas ao pensar no cinema brasileiro é logo lembrar de alguma comédia genérica. Porém, o que às vezes acabamos esquecendo é que a sétima arte brasileira produz grandes filmes que abordam temáticas sérias, levantando reflexões e questionamentos. Por isso, para você renovar seu conceito sobre o nosso cinema - ou reafirmar sua admiração -, preparamos uma lista com 10 filmes brasileiros que farão você pensar sobre a vida e a nossa sociedade.

1) Aquarius

Kleber Mendonça Filho | 2016 | 145min


Esse filme chamou a atenção esse ano em grandes premiações, como o Festival de Cannes, e não foi em vão. “Aquarius” aborda de forma sensível mas ainda assim bastante enfática uma série de questões da modernidade e também da sociedade brasileira. Na trama, a personagem Clara (Sonia Braga), com 65 anos, mora no apartamento no qual criou sua família e passou a maior parte da sua vida, e que agora é alvo de uma empresa que deseja comprá-lo para assim poder derrubar todo o prédio e construir um novo empreendimento no local.


Em meio às negativas de Clara em vender o imóvel, o filme traz como temática o conflito muito atual da nossa sociedade que glorifica o novo acima de tudo, muitas vezes desvalorizando o que é mais antigo. Também são trabalhados assuntos como os limites éticos das corporações e os conflitos de classes sociais do Brasil - tudo entregue brilhantemente por uma direção criativa, fotografia inspirada e a atuação extraordinária de Sonia Braga.

2) Que Horas Ela Volta

Anna Muylaert | 2015 | 111min

Uma comédia com cunho crítico, “Que Horas Ela Volta” também se destacou na crítica e em premiações - como nos renomados festivais de Berlim e Sundance. O filme narra a história de Val (Regina Casé), que saiu do interior de Pernambuco para trabalhar em São Paulo, e passa 10 anos vivendo e trabalhando na casa dos patrões como babá do garoto Fabinho (Michel Joelsas). Com a chegada da filha de Val, Jéssica (Camila Márdila), que vai fazer vestibular na “cidade grande”, toda a dinâmica dessa casa passa a ser questionada.


Através uma linguagem descontraída e simples - mas cheia de símbolos e metalinguagens -, cenas e diálogos cômicos e ótimas atuações (especialmente de Regina Casé), “Que Horas Ela Volta” é um dos grandes destaques do cinema brasileiro nos últimos anos. Questionando segregações raciais, denunciando preconceitos velados e colocando o dedo na ferida da sociedade brasileira, é um filme que estimula a reflexão sobre o nosso país.


3) Hoje Eu Quero Voltar Sozinho

Daniel Ribeiro | 2014 | 96min

Esse filme consegue unir uma narrativa singela e leve com temáticas atuais da sociedade - mas sem se tornar excessivamente crítico ou, por outro lado, piegas. “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho” conta a história de Leonardo (Ghilherme Lobo), um adolescente cego que enfrenta a superproteção dos pais e começa a descobrir a sua homossexualidade quando um novo aluno, Gabriel (Fabio Audi), chega à escola.

Apesar de trazer elementos que poderiam ser tratados como a principal mensagem do filme - a história do garoto com deficiência física e gay -, essa obra consegue ir além e retratar, acima de tudo, problemas que afetam todos os adolescentes. O despertar da sexualidade, a busca pela independência, o relacionamento com os amigos e a família; tudo isso faz com que qualquer pessoa possa se identificar com Leonardo, criando um filme cativante e singelo, tanto em sua fotografia quanto na direção e no roteiro. Ao retratar uma sociedade que aceita e acolhe as diferenças, “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho” pode parecer utópico e romântico demais, mas, justamente por isso, nos faz pensar se é realmente tão difícil tornar essa visão de sociedade uma realidade.


4) O Menino e o Mundo

Alê Abreu | 2014 | 85min

Um filme de animação em 2D, com técnicas simples e sem nenhum diálogo: “O Menino e o Mundo” pode parecer singelo e simples demais, mas sua veia artística repleta de simbologias e metalinguagens nos faz pensar sobre a sociedade e os valores atuais que assimilamos por vezes sem nem perceber. O filme conta a história de um menino que mora com seus pais no campo. Porém, por causa da pobreza, seu pai precisa ir para a cidade grande. O garoto decide seguir o pai e também viaja para a cidade, e lá encontra um mundo repleto de indiferença, pobreza e exploração.

No entanto, essa dura realidade, a desigualdade entre poderosos e pobres, a paisagem colorida do campo e o cinza desolador da cidade, tudo isso é retratado de forma subentendida, nas entrelinhas. Dessa forma, é uma animação colorida e bonita, atrativa para as crianças, e que ao mesmo tempo faz adultos refletirem sobre a sociedade e repensarem o mundo que desejam deixar para os pequenos.

5) Tropa De Elite

José Padilha | 2007 | 115min

Um dos maiores sucessos de bilheteria e crítica dos últimos anos, “Tropa de Elite” - e também a sua sequência, de 2010 - une ação, crítica social e drama de forma quase impecável. O filme se passa em 1997 e conta a história do Capitão Nascimento (Wagner Moura), que deseja se aposentar do BOPE e busca um substituto. Ele encontra nos dos dois amigos policiais Neto (Caio Junqueira) e André Matias (André Ramiro) candidatos com potencial, que precisam provar seu valor e enfrentar as dificuldades de trabalhar na corporação.

Aqui são retratados o tráfico de drogas, a pobreza das favelas, criminalidade, violência policial e, principalmente, a corrupção nos órgãos públicos, tema que continua presente e relevante ainda hoje. Repleto de frases icônicas, atuações de destaque e cenas emblemáticas, “Tropa de Elite” pinta um quadro chocante e real não apenas do Rio de Janeiro, mas do país todo exemplificado na cidade maravilhosa, e fomenta uma série de discussões e debates.


6) O Ano Em Que Meus Pais Saíram de Férias

Cao Hamburguer | 2006 | 105min

O ano é 1970: ano de Copa do Mundo e ano em que a Ditadura Militar dominava o Brasil. E esses dois aspectos são pontos centrais do filme, que traz a história do menino Mauro (Michel Joelsas), de 12 anos, que vai viver com seu avô em São Paulo enquanto seus pais viajam. Só que, na verdade, eles estão fugindo da ditadura e, para piorar, o avô de Mauro falece em seguida e o garoto é deixado com outro morador do prédio, o velho judeu Shlomo (Germano Haiut).

Através do olhar de uma criança - ponto de vista pouco explorado sobre esse contexto histórico -, “O Ano Em Que Meus Pais Saíram de Férias” retrata a insegurança pública gerada pela Ditadura, a paixão pelo futebol - 1970 foi o ano do tri brasileiro -, a saudade dos pais, o choque de religião e geração entre Mauro e Shlomo, as descobertas e curiosidades da infância e, nesse caso, a solidão singular do menino Mauro. Dessa forma, é um filme que faz pensar não apenas sobre esse período histórico do Brasil, mas também sobre a visão de mundo que uma criança tem e que por vezes deveríamos resgatar mesmo enquanto adultos.

7) Carandiru

Hector Babenco | 2003 | 144min

Baseado em um livro de Dráuzio Varella, “Carandiru” retrata a realidade do maior presídio da América Latina - na época -, tendo como espectador um médico que se voluntaria para realizar um trabalho de prevenção à AIDS. Com essa situação como pano de fundo, no filme se desenrolam acontecimentos que escancaram a violência, as condições desumanas e toda a sociedade que existe dentro do presídio - com suas regras, rituais e rotinas.

O grande trunfo da história aqui é, sem dúvida, a força de chocar, abrir feridas e escancarar situações cruas de violência, preconceito e falta de estrutura, mas de também retratar os presos como pessoas complexas, e não apenas criminosos. É um filme que faz questionar as fórmulas do sistema carcerário brasileiro, tão precário hoje quanto era em 1992, quando ocorreu o massacre que matou 111 presos durante uma rebelião no Carandiru.


8) Cidade De Deus

Fernando Meirelles | 2002 | 130min

"Cidade de Deus” não é apenas um dos maiores filmes do cinema brasileiro, mas também do cinema latino-americano - e não é para menos. Essa é a história de dois moradores da favela que dá nome ao filme crescendo enquanto trilham os caminhos da sua vida; um se torna fotógrafo, e o outro um dos líderes do tráfico de drogas.

Mas esse caminho não é apresentado de forma simplista, preto no branco. Ao contrário, é cheio de tons de cinza e aborda desigualdade social, pobreza, violência, drogas e os dilemas morais que esse contexto social impõe diariamente. É impossível assistir à “Cidade de Deus” sem se sentir chocado com a realidade que ainda hoje, quase 15 anos depois, persiste, e pensar sobre as condições de vida no Brasil.

9) O Auto da Compadecida

Guel Arraes | 1999 | 95min

Esse é provavelmente o filme mais leve e bem humorado da lista, mas ainda assim tem o potencial de trazer reflexões tanto sobre temáticas universais, como as escolhas da vida e suas consequências, quanto a respeito da miséria do sertão. Adaptado da clássica peça teatral homônima de Ariano Suassuna, “O Auto Da Compadecida” conta a história de João Grilo (Matheus Natchergaele) e Chicó (Selton Mello), que através de espertezas e esquemas, tentam ganhar a vida em uma pequena cidade da Paraíba.

Apostando na ótima atuação desses dois, em um humor simples e cativante e nas pequenas histórias e personagens que cruzam o caminho de Chicó e João, o longa também aborda a dura vida no nordeste, a falta de oportunidades e a falsa moral que muitas vezes as pessoas escondem. Essa última temática, inclusive, é retratada em um divertido e emocionante julgamento final na presença de Jesus (Maurício Gonçalves), Maria (Fernanda Montenegro) e até do Diabo (Luís Melo).

10) Central Do Brasil

Walter Salles | 1998 | 105min


Esse é um grande clássico que se mantém relevante e reflexivo mesmo com o passar dos anos. No filme, Dora (Fernanda Montenegro) trabalha na Central do Brasil escrevendo cartas para os analfabetos que desejam se comunicar com os familiares. É nessa situação que ela encontra Ana (Soia Lira) e seu filho Josué (Vinícius de Oliveira). Após um acidente que tira a vida de Ana, Dora acaba ficando com Josué e decide levá-lo para o Nordeste com o objetivo de entregar o garoto para o seu pai - que nunca conheceu Josué.

Durante essa viagem, a narrativa mostra a amizade entre essa improvável dupla, além de abordar a dura vida no sertão, a pobreza e o cotidiano do povo brasileiro. Com uma direção que consegue transmitir solidão e companheirismo nos momentos certos e a atuação inspiradíssima de Fernanda Montenegro - indicada ao Oscar de Melhor Atriz por esse papel -, “Central do Brasil” emociona e faz pensar como poucos filmes do cinema brasileiro conseguem.

11) Menção honrosa: O Pagador De Promessas

Anselmo Duarte | 1962 | 97min

O último item da lista é também o mais antigo e aquele que provavelmente recebeu o prêmio mais importante da história do nosso cinema: a Palma de Ouro em Cannes. O filme retrata a saga de Zé do Burro (Leonardo Villar) que, como indica o nome do longa, busca pagar uma promessa: carregar uma cruz do seu sítio até Salvador. O problema é que o padre da cidade é contra porque a promessa foi feita em um terreiro de candomblé e rogava pela recuperação do burro de Zé.

Embora a trama possa parecer absurda e escrachada - quase como uma obra do teatro -, o enredo tem como grande qualidade conseguir abordar e questionar valores sociais em meio à essa missão pitoresca. O conflito entre a religião como instituição e as crendices populares; o oportunismo daqueles que tentam tirar vantagem da promessa de Zé; e a folclórica tenacidade do povo brasileiro - tudo retratado de forma sensível e humana.

Esses são só alguns exemplos que mostram como o cinema brasileiro tem grandes obras que merecem reconhecimento e se destacam como ferramentas de reflexão. A sétima arte possui o poder de nos fazer pensar e mudar atitudes, e esses filmes proporcionam tudo isso enquanto retratam o nosso país - uma combinação imperdível para quem ama cinema.

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