A Floresta Que Se Move | Ambição é necessário, mas resultado também

A obra Macbeth, de William Shakespeare, já recebeu diversas adaptações no cinema, de Orson Welles a Akira Kurosawa. Este ano, um dos filmes mais aclamados de Cannes, ainda inédito, traz Marion Cotillard e Michael Fassbender na adaptação - é um dos lançamentos que mais aguardo em 2015. Em A Floresta Que Se Move, Vinicius Coimbra apresenta sua versão moderna da obra, e marca o retorno, após anos, da atriz Ana Paula Arósio.

A história pode ser resumida em poucas frases. Basicamente se passa no tempo presente, no ambiente de negócios de um valioso banco. Após negociações na Alemanha, Elias encontra uma misteriosa 'tricoteira' que lhe parabeniza pela promoção - ainda desconhecida - ao cargo de vice diretor, e completa que caso o tivesse visto no dia seguinte, lhe parabenizaria pelo de diretor. Surpreso e incrédulo, Elias a ignora, mas permanece intrigado. Logo ai já sabemos que tudo o que veremos ao longo do filme será a concretização desta profecia.

A iniciativa de realizar um filme deste porte é sem dúvidas ambiciosa, e deve ser valorizada enquanto tal, visto que é fundamental para a pluralidade de expressões do Cinema Brasileiro investir também em produções que permitem e exigem um aperfeiçoamento técnicos de profissionais do audiovisual. Os resultados serão irregulares, é verdade, mas frutíferos enquanto fonte de aprendizado. E essa talvez seja a salvação para A Floresta Que Se Move, servir como exemplo. Por outro lado, tais ambições precisam ser seguidas de resultado, para não se tornarem gratuitas. Motivação e interesse são ótimos, mas não se sustentam sozinhos. Na apresentação pré-filme, Coimbra reafirmou o empenho em realizar um cinema de grande alcance que mostre aos brasileiros que nós também produzimos drama, em uma tentativa de despolarização dos filmes de comédia que invadem e dominam a programação das salas. Lindo, mas ingênuo. Esta quase hegemonia precisa mesmo ser questionada e combatida, mas é um processo que envolve inúmeras questões.

Lembro que entre os depoimentos que compõem o indispensável documentário Crítico (2008), de Kleber Mendonça Filho (O Som ao Redor), há o de um profissional que nos lembra uma característica inerente da condição humana: é sempre muito mais fácil criticar negativamente que positivamente. As palavras saem e fluem com facilidade quando estamos apontando os defeitos, e nos parecem fugir quando elogiamos. Estando enferrujado há algum tempo na produção de textos críticos, justamente pela falta de prática e habilidade no desenvolvimento de elogios sem os incômodos da adjetivação excessiva, agora parece não me faltar abordagens para este texto, já longo antes mesmo de adentrar no filme.

As falhas e limitações são muitas. Coimbra lida com uma ambição que permanece no campo das ideias, e quando resolve dar as caras, vem com uma excessividade demasiada bruta, sem lapidação. Ao final da sessão, que ocorreu no Frei Caneca na 39ª Mostra de São Paulo no último dia 27, um espectador perguntou o porquê da escolha do ambiente bancário como contexto para inserir a obra no século XXI. De resposta, obteve um "não sei", passando a fala para o ator Fernando Alves que dizia ter formulado uma teoria durante as filmagens. Se o diretor não tem, ou aparenta não ter - e digo isso não pela fala - a ideia do filme muito clara (o banco não é apenas um detalhe!) em sua cabeça, muita coisa pode e vai sair dos trilhos. Afinal, onde - e como - se quer chegar? 

Isso talvez explique muito das motivações rasas, transvestidas de profundas, dos personagens igualmente superficiais. O tom dúbio da "questionada" natureza humana não convence, e tudo soa como uma ganancia barata. Os diálogos incomodam pela pobreza e didatismo. Nem tudo precisa ser dito, subestimando a inteligência do espectador, ou o cansando. Quando oferecem reflexões, de fato algumas frases são difíceis e densas, soam gratuitos e vazios. Vem sem avisar e vão embora sem dar tchau. Isso prejudica o que de melhor eles tem, e acaba por desperdiçar indagações fundamentais para o tom reflexivo e sombrio pretendido pela obra.

O maior banco privado do Brasil. E sem nome. 

Muito se diz - na obra - da grandeza daquele que é o maior banco privado brasileiro, com transações internacionais milionárias. Riqueza, poder, influência. Mas calma ai, qual é mesmo o nome dele? É difícil imaginar um escritório e sala de recepção de um banco sem nenhuma identidade institucional (apenas arquitetônica, linda por sinal)? Pode parecer um detalhe bobo, que tem pouco a acrescentar ao filme. Mas não é. Isso, entre muitas outras coisas, reforça a falta de profundidade das relações profissionais dos personagens. O que ocorre ali poderia se passar em qualquer outro ambiente.

Por outro lado, as locações - no Uruguai e Berlim - garantem uma cenografia moderna e sofisticada. Nos créditos iniciais, vemos belas colinas de verde vivo, ao som vibrante de Villa Lobos, criando uma atmosfera sombria - que será frustada posteriormente com uma trama policial.



O veterano Emiliano Queiroz garante a melhor cena do filme - a única em que aparece. O monólogo ácido e sem delongas do segurança retoma o material original da obra e proporciona alívio cômico em meio a tensão crescente.   

A Floresta Que Se Move, aparentando trazer investidas promissoras, acaba por ser só mais um suspense policial facilmente esquecível, que engana com pretensões maiores que resultados. O que é uma pena, de verdade.


Por Mateus Guimarães Borges

_
O filme foi exibido no Festival do Rio, na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e estreou nos cinemas no dia 5 de novembro.

A FLORESTA QUE SE MOVE
Direção: Vinícius Coimbra
Ano: 2015
Elenco: Gabriel Braga Nunes, Ana Paula Arósio, Nelson Xavier, Ângelo Antônio
Gênero: Drama
País: Brasil

365 Filmes +Conteúdo +Notícias +Produtos +Cinema

A 365 Filmes é um conjunto de ferramentas que juntas formam um espaço totalmente voltado para o cinema. Seja através do conteúdo do blog, das notícias nas redes sociais ou dos produtos de nossa loja exclusivamente criados para os amantes da sétima arte, nossa motivação é divulgar, incentivar e inspirar cada vez mais cinema.